quinta-feira, 4 de agosto de 2011

O poder de uma decisão

"Moisés apascentava o gado de Jetro, seu sogro (...). Um dia, conduzindo o rebanho para além do deserto, chegou ao monte de Deus: o Horeb." Ex.3, 1

Que história extraordinária encerra Moisés. Ele que já havia sido alto funcionário do Egipto, irmão de criação do Faraó, hoje era pastor e apascentava o gado de outra pessoa no deserto.
Imagino Moisés imerso na sua própria crise de identidade, sem saber mais quem era, também não sabia o que fazer. Apascentava o gado no deserto e a ele mesmo se apascentava vagueando entre as escasas ervas do seu deserto interior. Esta figura bíblica terá de certo vivido a revolta de quem descobre a sua origem e já não pode ser o que se pensava, nem passar a ser o que lhe afirmam. Ter-se-á perdido nas ideias baralhadas e confusas e, talvez por isso, se tenha refugiado no deserto, esquecido numa rotina calma e errante.

Quantas vezes nós próprios nos refugiamos no deserto da rotina calma de quem só apascenta ovelhas? E nem nossas as ovelhas são(!), que isso seria já uma enorme responsabilidade...são de outro; de outro alguém; nosso apenas o dever de as conduzir por aqui ou por acolá, por entre as ervas e o deserto.

Mas, um dia, decide Moisés ir além do deserto.
E tudo muda.

Decidindo ir além da sua rotina, do que lhe era já conhecido como caminho; decidindo aventurar-se para além da sua zona de conforto, Moisés abre espaço para que o inesperado e o maravilhoso aconteça.
Quando se aventura, dentro e fora de si mesmo; quando quebra as suas próprias correntes, é o Anjo de Deus que lhe aparece!

E Deus aparece a Moisés numa simples e quotidiana sarça a arder. Creio que no deserto quente não seja assim tão especial ver um arbusto ou pequena árvore a arder. Tal deve ser uma imagem rotineira. O que era, então, especial?
A sarça ardia mas não se consumia. Isso é extraordiário!

Quantas vezes Deus nos surge nas realidades quotidianas da nossa vida, nos atraindo pela curiosidade de quem vê naquela imagem de sempre algo todo diferente?
Deus fala-nos de forma extraordinária nos eventos mais simples da nossa vida.

"Disse (Moisés) consigo: «Vou aproximar-me e examinar esta visão tão extraordinária, porque razão não se consome a sarça?»
O Senhor viu que ele se tinha aproximado para observar; e Deus chamou-o do meio da sarça: «Moisés! Moisés!»"

O poder da decisão de Moisés é este «Vou aproximar-me»

Moisés decide aproximar-se. Apenas para observar aquela imagem extraordinária, e Deus vê que Moisés se aproxima e já não o deixa ir embora.

Ao ler este texto firmo em mim a crença de que Deus está sempre aqui tão perto à nossa espera, pronto para nos chamar pelo nosso próprio nome. Deus só precisa que a nossa decisão interior seja tomada. Temos de nos decidir a ir além do nosso deserto; a adentrar-mo-nos mais em nosso ser; a quebrar com as correntes confortáveis da nossa rotina; e abrir espaço para que o maravilhoso possa acontecer.
E se o nosso desejo interior for encontrar Deus, de certo que Ele mesmo virá ao nosso encontro, atraindo-nos na simplicidade do nosso dia, e nos chamando pelo nome.

"Ele (Moisés) respondeu: «Aqui estou»".
E logo em seguida Deus lhe confia a missão que havia preparado para ele.

Deus tem para cada um de nós uma missão especial.
Para cada um, Ele tem um sonho, um projecto. Só à espera do nosso «Aqui estou».
Não podemos deixar de dar esta resposta a Deus. Não podemos continuar a adiar o nosso «Aqui estou».
O nosso mundo, o nosso dia-a-dia, a nossa família, a nossa zona de influência, precisa do nosso «Aqui estou!» - gritado alto e convicto no silêncio dos gestos, nos ecos das escolhas, na esperança renovada.

Deus está a chamar-nos pelo nome. Deus tem um plano para cada um. Ele precisa de cada um. Não dá para ficar indiferente. É preciso sermos cristãos informados e esclarecidos. Consciêntes da nossa missão. Sabedores de que o nosso Deus é sempre um Deus de Amor. Um Deus que espera. Por isso, o nosso desejo de o servir não pode conduzir-nos à violência, nem à intolerância. Principalmente, se outros à nossa volta não proferirem a mesma fé. O nosso Pai, é Pai de todos e a todos chama pelo nome.

Dá, hoje a tua resposta a Deus. Dá hoje o teu «Aqui estou.»

E quando Moisés duvidando da sua capacidade para realizar a missão que Deus lhe confiava, pergunta: «Quem sou eu para ir ter com o Faraó?»
Deus responde:  «Eu estarei contigo».

Aos cristão não faltará esta presença de Deus, esta companhia que capacita, fortalece, protege e guia. Quando cumprimos a missão de Deus para nós, Ele mesmo estará connosco.