quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

"Outras (sementes) caíram em terra boa e deram fruto" Mt. 13, 8

Irmão,
a família é uma dessas actividades de agricultor em que a terra lavrada com paciência e semeada com amor acaba por desabrochar em flores de estima.

Temos a graça de viver numa dessas famílias em que a liberdade de cada um não se sobrepõe ao respeito pelo outro. É, até, na descoberta do respeito pelo outro que cada um encontra a melhor expressão da sua própria e voluntária liberdade.
Temos a graça de viver numa dessas famílias em que a celebração da vida na alegria e na valorização humana adquire contornos de felicidade. Pequenos e preciosos tesouros que se guardam no coração, para fazer nascer um sorriso, algures, depois, quando o futuro for presente também.

A família é isso.
E é só isso que deseja ser.

Lugar de encontros e celebrações.
Pateo de amizades e cumplicidades.
Mesa de sintonias e afinidades.
Onde se vai bebendo o caminho que cada um percorre; saboreando as aprendizagens partilhadas; disfrutando das companhias e conversas; e festejando as presenças sempre vivas dos que com amor se guardam.

Irmão,
hoje sentámo-nos novamente nesse campo lavrado e admirámos as flores que ele gerou. Delas fizemos algodão e tecemos laços, desses que nos prendem um pouco mais, tanto à vida como ao céu.

Deus é o criador desses campos; o germinador dessas flores.
Deus é, sem qualquer dúvida, a inspiração, a motivação e até a confiança, do Homem que deseja ser família.
Acredito, profundamente, que sem Deus o coração humano não é capaz de tamanha tarefa.
A terra é demasiado grande...
Ninguém pode ser família sem se pôr primeiro a caminho de Deus.

Porque na imensidão do outro se afoga a nossa demasia. Porque diante das faltas do outro, nos falta a capacidade de suprir, antes sobreabundam as nossas arrogâncias e misérias. Porque ao desentendimento respondemos naturalmente com incompreensão. Porque no meio do desespero quase sempre escolhemos fugir, desistir, recomeçar outra coisa, outra vida. Porque na margem do nosso coração moram sempre pequenos animais roedores, de dentes afiados e garras assanhadas, prontos a atacar, sem ver, sem ouvir, sem refletir.

Porque é bem no interior, no denso interior, do coração humano que habita a virtude. E porque há apenas um caminho para lá chegar. Ninguém pode, querendo ser família, fazê-lo sem se pôr primeiro a caminho de Deus.

Só esse caminho transforma a família numa jornada mágica de descoberta e aprendizagem que vale a pena viver.
Só Deus prepara a família para ser como um forno de alquimia onde o metal impuro de cada ser se transforma em ouro para todos. E onde o elixir da longa vida se bebe sempre que tocamos o coração do outro e deixamos que o outro toque o nosso coração para sempre. Com fios de ouro puro.

Dou graças por esta família que temos. E faço-me ao caminho para ser também eu lavrador desse campo que esconde um tesouro.
Possamos, mesmo na diminuta distância do nosso m2, ser testemunhos vivos da família que Deus deseja.