quinta-feira, 14 de abril de 2011

A Reconciliação

Aproxima-se a semana Maior e a Igreja apela à reconciliação para que se viva plenamente este tempo pascal. Relembro, hoje, duas histórias da Bíblia, primeiro Paulo e Marcos, depois Jesus.

Na 2ª Carta a Timóteo, no cap. 4, versículo 11, Paulo escreve "Toma contigo Marcos e trá-lo porque me é muito útil para o ministério."
À primeira vista esta frase até parece banal, mas recordemos que Paulo se sente no fim da sua vida. Alguns versículos antes Paulo diz "Quanto a mim, estou pronto para o sacrifício e o tempo da minha partida já se aproxima." Este sentimento de fim de vida terrena, transparece na escrita de Paulo e concerteza estaria presente no seu coração, fazendo-o recordar e refletir em toda a sua caminhada, no seu serviço e no seu ministério.
Alguns anos antes, Paulo e Barnabé haviam discutido violentamente por causa de Marcos (Actos 15, 39). Tão violenta foi a discussão que Paulo e Barnabé se separaram. Eles que até então tinham percorrido tantas cidades juntos, evangelizando, enfrentando tantas tormentas... Mas, Paulo, naquela ocasião não soube perdoar Marcos por este se ter afastado deles na Panfilia e não ter enfrentado as batalhas próprias do serviço.
Paulo não perdoou.
Por causa disso, Barnabé tomou consigo Marcos e seguiu para Chipre, enquanto Paulo tomou Silas e seguiu para a Síria. Aqueles que até então foram um dupla de amigos, de irmãos em Cristo, unidos. Imagino quanta amizade teriam um pelo outro. E por causa de Marcos separaram-se. Como deve ter sido doloroso! Como se deve ter espalhado a notícia da separação dos dois e de que Marcos era o causador de tamanha rixa. Como se sentiu Marcos naquela ocasião, sabendo que Paulo não o perdoava?

Agora, aquela frase de Paulo, dita na carta a Timóteo já não é banal. Paulo pede a Timóteo: "Toma contigo Marcos e trá-lo". Paulo chama Marcos. E reconhece: "porque me é muito útil para o ministério".
Estamos aqui diante de um perdão.
Uma acção reconciliadora. Um perdão que deve ter custado a Paulo o confronto com a sua própria natureza pequena e mesquinha. Um perdão que deve ter forçado Paulo a reconhcer-se a si mesmo, a julgar-se a si mesmo.
Nesse tempo de fim de vida, Paulo, enfim, reconhece a capacidade de Marcos (seu irmão em Cristo) e a sua própria incapacidade (de perdoar) e pelo perdão Paulo se capacita - não a Marcos, mas a si mesmo -de Deus.

Jesus apela constantemente a este acto de reconciliação com os outros. Ele chega mesmo a dizer que se estivermos no altar e nos lembrarmos que não estamos em paz com  um irmão, devemos deixar tudo e ir primeiro ao encontro desse irmão a fim de restabelecermos com ele a paz.

Nestes dias que antecipam a grande festa da Pascoa, possamos meditar sobre a reconciliação e agir para que nos reconciliemos com todos, em especial com aqueles a quem Jesus nos pede para amar: os nossos próximos. Muitas vezes, lemos este mandamento "Ama o teu próximo como a ti mesmo" e nem nos ocorre que esse próximo é aquela pessoa que está mesmo ali ao nosso lado e que connosco vive e convive: o nosso marido (a nossa esposa), os nossos filhos, noras, o nosso irmão ou a nossa irmã de sangue, a nossa mãe, pai, sogra ou sogro, o colega do trabalho que nos chateia e aborrece. Enfim, são aqueles que connosco convivem que atropelam a nossa vida, porque são esses que nos desafiam e nos atingem com as suas escolhas, decisões, acções ou falta delas. Mas, é a esses - os nossos próximos mais próximos - a quem Jesus primeiro nos pede que amemos e que com eles vivamos reconciliados.

Este é de todos, o exercício humanamente mais díficil, pois quando temos de perdoar alguém, o nosso pensamento costuma encher-se de orgulho, a nossa visão só vê o mal, a mágoa, a nossa recordação só lembra o que o outro disse ou fez e que nos magoou. Nesse momento, a nossa humanidade não nos mostra, nem por um segundo, o fraco barro de que também nós somos feitos. As nossas acções, as nossas palavras, ficam tão turvas que nem nos lembramos delas. E também nós só fizémos mal porque o outro nos fez mal primeiro! Ora essa!
...Somos todos iguais neste ponto... Mas, já que nunca somos os primeiros a fazer o mal, que sejamos sempre os primeiros a fazer o bem! A perdoar! verdadeiramente e intimamente e a dar o primeiro passo para reconstruir a paz com o nosso próximo!

Proponho que tenhamos todos esta intenção na nossa oração desta semana: Jesus ensina-me a perdoar.
Santa Páscoa!

segunda-feira, 4 de abril de 2011

A tua Fé te salvou.

Ao lermos os evangelhos somos surpreendidos por esta expressão de Jesus: "A tua fé te salvou.". Assim, encerra Jesus todos os episódeos de cura, todos os milagres que faz.
Sempre nutri esta curiosidade pela pergunta (poderosa) que Jesus coloca a todos os que O buscam suplicando uma cura, um milagre: "Tendes fé?" "Acreditas que Eu posso curar-te?" . Aqueles que responderam "SIM, eu CREIO!", esses receberam a cura e a salvação, e a esses Jesus disse: "A tua fé te salvou".
A dinâmica da fé assume assim toda a sua importância e esplendor. Não é porque Jesus é o Filho de Deus, onmipotente, que os milagres são realizados, mas porque o Homem que O procura e pede o milagre acredita firmemente que Jesus pode curar. Claro, que Jesus poderia curar mesmo se o Homem não quisesse, se até das pedras Ele pode fazer nascer filhos de Abrão. Mas, não iria isso contra o plano de liberdade de Deus para com o Homem? Que aprendizagem poderia o Homem receber de uma graça que não reconhece? Que não deseja e que não espera?
Assim, Jesus nos deixa esta poderosa lição sobre a fé.
É preciso o Homem acreditar, esperar e desejar. É preciso o Homem abeirar-se de Deus com fé pura e grandiosa em seu coração, para que todo o poder de Deus possa actuar através do Espírito Santo.
A nossa fé não é, pois, coisa pequena. É ela que move montanhas! As montanhas enormes da nossa vida e do nosso mundo! É ela que nos faz ir mais longe, mais além! É ela que nos sustenta na tribulação e nos alegra na esperança!
Os cristãos têm em si esta extraordinária ferramenta de vida: a FÉ EM CRISTO! Esta crença libertadora, potenciadora, que nos alavanca, que nos fortalece!

Mas, quantas vezes nos comportamos como se não conhecessemos Cristo? Cabisbaixo enfrentamos o dia-a-dia, sem ânimo, sem vontade. Já somos só desilusão e descontentamento. Já somos só revolta (ou pior, indiferença). Quem é assim não pode ser de Cristo.
Por isso, tenhamos cuidado e estejamos atentos ao nosso ser. Sabendo construir um coração puro que acredita sempre na vida, na sua verdadeira e plena dimensão. Um coração que não definha diante do problema e que não se desgasta diante da mesquinhez, mas que se fortalece na provação e que se entrega ao Amor e à Alegria que vêm de Jesus.

A fé constrói na pessoa um legado de paz. A fé anima a pessoa para uma luta valiosa: a realização dos sonhos de Deus!
Os cristãos, animados por sua fé, devem assumir hoje a sua verdadeira missão: construtores de um mundo vivo e cheio de graça. Aqueles que são rosto de uma esperança concreta e real alicerçada no que há de mais essêncial e profundo. Aqueles que oferecem ao mundo um caminho novo, digno e verdadeiro. Aqueles de quem transborda um fé contagiante, alegre e firme. Esses são os cristãos!

Nem, sempre é fácil, bem sei, que não é (quem não o sabe?!). Por isso, é que é importante o apoio e amparo dos grupos e comunidades cristãs, a leitura e estudo da Bíblia e, acima de tudo, a perserverança da oração intima, pessoal e diária com Deus.Como dizia o Pe. Paulo Ricardo da Canção Nova um destes dias numa palestra: "Em cada um de nós que somos filhos de Deus, existe um filho da mãe!" Este filho da mãe é a maior luta que cada um de nós trava. A missão de evangelizar é também e, antes de tudo, uma missão pessoal de evangelizar esse filho da mãe que cada um de nós é! Conquistar para Deus todo esse imenso território que existe em cada um de nós e que ainda não Lhe pertence!

Nesta segunda metade da quaresma podemos fazer este exercício de evangelizar o nosso próprio coração, descobrindo dentro de nós toda a força da fé que nos anima. Deixar que brotem rios de água viva no nosso interior. Deixar que o Espírito Santo nos ensine o poder imensurável da fé!

Veja o exercício de coaching: CRENÇAS na página Coaching para Famílias