sábado, 3 de janeiro de 2015

Acredito num Deus quase impossível

Num mundo em que os meus olhos saboreiam o amargo fel.
e onde o vermelho do sangue cobriu o verde da erva que enchia o teu coração de esperança.
E se hoje és apenas uma criança
amanhã serás um homem destruído.
Destruído e sofrido.
Trazendo ao pescoço a medalha da guerra feita do sangue dos teus avós.

E nós...(?)
cheios de calma,
deixamos que nos queimem a alma.
Fugimos da terra dos mortais,
da confusão.
Navegamos sem farol, sem agonia
vivemos o nosso dia-a-dia
sem ligarmos ao mundo 
e sentindo, no fundo,
que nem parte dele fazemos.
Mas, seremos
sempre aqueles que procuram no tom frio da noite
indícios de um sol esquecido.

Foram cães raivosos
que no crepúsculo da tarde
invadiram, massacraram e lançaram o fogo.

Fogo,
que atravessou corações
como setas envenenadas de ódios em convulsões.

Uns,
eram inocentes farrapos.
Outros,
de ódios saciados
eram cães esfomeados.

Tu,
sofres a dor imensa da miragem perdida
quando vês a tua luta acordar em ilusões sem vida.

Por isso importa
ferir as mãos 
e calar os infames cidadãos 
que nos matam
se as nossas mãos a escorrer sangue
conseguirem estancar o sangue do mundo.

Mas, num segundo tudo é esquecido
e a sociedade faz coroas de lírios,
esquecendo os martírios.

Eu,
vejo todos os dias
no amanhecer das marés
sonhos naufragados
rolarem a meus pés.

Quando os homens abrem a boca 
pondo cá p'ra fora o lixo 
e derramando o sangue
a sociedade aplaude

aplaude e aceita. [ASN, 1992, setúbal]

A quantas guerras e a quanta gente já dediquei este poema. Desde 1992, aquando do massacre de Timor até agora, em que não consigo deixar de ouvir o grito dos perseguidos.
Quando li o livro "Um Milionário em Lisboa" de José Rodrigues dos Santos, na sua brutal descrição do massacre dos arménios, chorei. Perguntava como era possível que uma Europa se mantivesse calada e serena diante de tamanha barbárie. 
Pouco tempo depois, esta mesma Europa se via mutilada, violada, perseguida. 
Ergue-mo-nos dos mortos. Refizemos a prosperidade.
Aclamá-mo-nos defensores da paz.

Hoje, um século depois, da história do livro, em que já não há como não saber as notícias, permanece a mesma questão: que fazer? Diante da barbárie, que fazer?

Será sempre tão fácil perder a paz. Estará sempre à distância de um louco.
Rezar, será sempre possível. E talvez a única ação digna de proveito.
Não ficarmos nunca indiferentes ao sofrimento é um exercício diário. 
Mantermos a paz, nesta parte do mundo é, mais do que uma opção, uma obrigação para com tantas e tantas pessoas chamadas a viver em ambiente de guerra.
O cristão não pode viver no mundo sem estar atento ao mundo. Não, podemos deixar de fazer ouvir a nossa voz a favor do que é verdadeiro, bom e belo. Por meio de todas as formas pacíficas de falar.
Oração, voto, redes sociais, grupos, jornais, etc.
 
Quando um cristão desiste; um louco assiste. 

Esses nunca se cansam. Nascem do chão como ervas daninhas,sem semeio, nem cultura.
Por esta razão, S. Paulo recomenda: "Recomendo-vos, irmãos, que não percais de vista aqueles que vos provocam dissenções e escândalos (...). Mas, quero que sejais sábios no bem e ilesos quanto ao mal. O Deus da Paz esmagará em breve Santanás sob os vossos pés." [Rom. 16, 17-19]

Aqueles que estão hoje no terreno a sofrer perseguição, pedem a nossa oração. 
Aqueles que foram para ajudar, pedem a nossa oração.
Possamos entregar em sacrifício por eles todas as coisas boas da nossa vida: a nossa casa quente; a nossa cama fofa; o nosso prato cheio; a paz da nossa consciência; o sorriso dos nossos filhos; o abraço do nosso amado. 

Porque "Trazemos este tesouro em vasos de barro, para que tão excelso poder se reconheça vir de Deus e não de nós. Em tudo somos atribulados, mas não esmagados; perplexos, mas não desanimados; abatidos, mas não destruídos. Trazemos sempre no nosso corpo os traços da morte de Jesus, para que também a vida de Jesus se manifeste no nosso corpo (...) Animados por este espírito de fé conforme o que está escrito «Acreditei e por isso falei» também nós acreditamos e por isso falamos. (...) Porque a nossa leve e momentânea tribulação prepara-nos para além de toda e qualquer medida, um peso eterno de glória. Por isso, não olhamos para as coisas visíveis mas para as invisíveis, porque as visíveis são passageiras, ao passo que as invisíveis são eternas" [2 Cor 4, 7-13]

Lembram-se de quando os cristãos preparavam os filhos para serem comidos vivos nas arenas?
O que hoje se vive no Iraque não é em nada diferente. 
Em certa medida até dói mais.

Resta-nos a certeza de que estes, tal como aqueles, são mártires e Santos.

Se algum dos nossos amigos e leitores deseja, além da oração, contribuir com donativos a favor dos cristãos perseguidos, sugerimos que o façam para o NIB da FUNDAÇÃO PONTIFÍCIA AJUDA À IGREJA QUE SOFRE: NIB: 0032.0109.00200029160.73

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