sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Ergue os teus olhos para o céu

Querido Tiago,

se um dia acordares no meio de um turbilhão de perguntas, lembra-te: ergue os teus olhos para o céu.
Aí encontrarás as respostas que procuras porque aí está quem te pode responder.
A verdade é ontológica. Não uma realidade ferida como o mundo nos faz crer. Não uma distorção redutora que nos aprisiona num beco sem saída. Mas, antes, uma graça abundante que nos faz quietar diante do que é bom e belo.
(Não queiras nunca menos do que isso. Detém-te nesse portento.)

Lembras-te do buraco de areia vazio? Aquele que tentávamos encher de água sem cessar? Aquele que não se saciava? Aquele lugar que nomeámos solidão.
Lembra-te quando, finalmente, nos deslumbrámos por perceber que esse lugar é terra boa para semear.

Que é de ti nascente?
Que escorres solitária montanha abaixo.
Que é de ti Homem?
Que te vais sem saber onde e vens sem saber donde?

Não estarás tu como Adão?
Sentado no trono da criação:
nomeando todos os seres e sentindo solidão?

(quantas lógicas imperfeitas? quantas angústias? quantos argumentos mais?)

Não estarás tu, mulher, como Teresa?
Caminhando na noite escura da montanha,
e no meio da natureza, sentindo admiração estranha?

Por tão grave desequilíbrio.
Se naquele escuro breu,
só o homem parece perdido. Só eu.

Que há em nós que se agita?
Que há em nós que se ergue e grita? (Pára!)
Que há em nós que se esconde e foge?

Se queres mesmo saber de onde vens nascente: caminha.
Caminha para cima. Para cima, contra a corrente.

Sofia

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

O mundo tirou Deus da equação

O Homem vive mergulhado no seu extraordinário existencialismo e materialismo, fazendo do próximo um objecto de uso, que meramente existe para satisfazer a sua felicidade sempre associada à realização do seu prazer pessoal.

Este Homem continua nos dias de hoje perante a árvore da conhecimento a escolher comer o fruto do seu pecado - a soberba!

Tudo é relativo. Não existe verdade para o Homem. 
Tudo é medido em função da satisfação da sua carne, do prazer imediato que ele associa à felicidade e busca incessantemente de forma insaciável, cultivando um egocentrismo que o isola, mesmo quando inserido numa multidão.

No entanto, este mesmo Homem não pode arrancar de si a sua verdade ontológica: é criado à imagem e semelhança de Deus!

A atitude utilitarista e relativista atentam contra o que de mais íntimo existe inscrito em sua alma - uma vontade profunda de Deus.

Ao escolher abafar em si este eco de Deus, o mundo mergulha num profundo desespero e angústia, os únicos frutos do seu pecado.

Texto escrito por Pedro Azadinho.
Finalmente, consigo publicar neste blog uma visão masculina. No que de mais íntimo existe no homem e na mulher encontramos as mesmas angústias e os mesmos desejos. Encontramos também a mesma vontade e a mesma atração para o que é bom, verdadeiro e belo, enfim para Deus.

sábado, 21 de junho de 2014

Ut Christus Ecclesiam Amavit (Como Cristo Amou a Igreja)

Que privilégio este que nos trouxe até Roma para participar neste fazer história.
Tenho absoluta certeza que a cada um Deus chamou pelo nome. A cada um chamou por um propósito. E todos juntos ali estávamos, unidos, numa mesma missão de oferecer ao Papa Francisco a cruz Ut Christus Ecclesiam Amavit (Como Cristo Amou a Igreja).

Esta cruz que transborda das dimensões humanas, diante da qual somos pequenos, ao mesmo tempo que nos sentimos enormes, recorda-nos que assim somos também diante de Deus: pequenos filhos que sendo tão amados por Ele transbordamos das nossas próprias dimensões miniatura.

Esta cruz, que demorou 9 meses a finalizar porque criada no seio da oração foi, concerteza, acolhida no ventre materno de Maria. Só assim se explica a intensidade do olhar entre Cristo e Maria.
Esse olhar gravado na pedra, nem é de pedra, nem provém das mãos talentosas do escultor. 

Esta obra tem um quê inexplicável que nos atrai.
É bela? sim. Muito bela por sinal. 
Mas, há nela uma beleza de outra dimensão pela qual somos atraídos. O nosso olhar prende-se ao de Maria e junto com Ela olha Cristo.
E nesta descoberta da beleza sentimos que a obra é apenas um meio que aponta para Cristo.

E Cristo todo debruçado na cruz sobre a sua Igreja, debruça-se com a mesma entrega sobre cada um de nós.


E nós?
Estaremos como Maria dispostos a abraçar e acolher o nosso Esposo?

Creio ser esta a beleza desta cruz: a interpelação profunda ao nosso ser que intimamente nos recorda que todos nós amamos a verdade e temos grande necessidade de Redenção.

Talvez, por isto, esta cruz apele intensamente à oração.

E, talvez por isto, cada um de nós se deixou tocar; se deixou chamar por Deus-Pai, e veio a Roma participar nesta oferta. Simbólica? claro. Como de resto todas as ofertas. Mas, será no simbolismo das nossas ações que se encontram as motivações profundas e substanciais do nosso ser.

Dia 18/06; 07h55m: A espera...

...junto ao Vaticano. A alegria já se revelava nos nossos rostos, prontos há muito para este momento que estava prestes a começar. O Padre Miguel Pereira e a Dra. Maria José Vilaça expressavam aquele olhar de quem enfim concretiza um projeto há muito sonhado. 
Em cada rosto encontrava a mesma alegria ansiosa. 

Dia 18/06; 08h00m: a caminho...
Gosto particularmente desta foto.
um grupo de pessoas com um propósito a caminho da Praça de S. Pedro.
A Teologia do Corpo começa por ser a descoberta de uma proposta, de um Caminho, de uma forma de ser e estar.
Acaba depois por se revelar uma Verdade diante da qual nos sentimos ora deslumbrados, ora apaziguados.
E no nosso íntimo vai nascendo esta vontade, que provém da liberdade, de nos deixarmos envolver, de abraçar a Verdade e nos fazermos ao Caminho. Este querer entregar-nos à Vida para vivê-la na autenticidade.
Queira Deus - nos permita Jesus, e nos anime o Espírito Santo - que a Teologia do Corpo acabe por fazer de nós um grupo de Pessoas (criadas à imagem e semelhança de Deus) que vivem com o propósito de ser sinal da Verdade neste caminho para a morada do Pai.

Dia 18/06; 10h00m: A Audiência...

O Papa Francisco entra na Praça de S. Pedro às 10 horas da manhã. Uma praça cheia o espera. Ele desloca-se por toda a praça no papa-móvel, cumprimentando, acenando, e parando aqui e ali para beijar uma criança, ou tocar num doente. Deus cuida de todos, mas especialmente dos mais frágeis e mais pequenos. E nestes gestos simbólicos, o Papa Francisco vai evangelizando os nossos corações
A praça responde com palmas, acenando, levantando bandeiras dos vários países que naquele dia ali se fazem presentes. Gritam o seu nome "Francisco! Franscisco!" e então alguém se lembra que ele próprio disse que queria que gritássemos "Jesus! Jesus!" e é esse o nome que enfim se escuta.
Estes momentos provocam um arrepio na alma que nem sabemos bem explicar porquê. 

"É só um homem." - afirma a nossa razão, naquela brecha de nós próprios sempre aberta à escuridão.
"Pois é. É só um homem" - responde o nosso pensamento - "Mas, é pelos homens que Deus soprou o Espírito Santo e O insuflou pelas narinas." 
E quando Deus quer é pelo corpo, mãos, olhos, boca, mente, coração e inteiramente todo o ser-humano que Deus se manifesta, que Deus fala, que Deus age. Não porque Ele precise disso, mas porque assim nós compreendemos melhor. 



E como Deus tem usado destes homens que foram os últimos Papas para falar a todos nós?
Fico sempre espantada com esta constatação de como Deus tem colocado na cadeira de Pedro, homens tão cheios do Seu Espírito!
Pelo menos nós, neste último século temos sido muito amados por Deus. Esta sucessão de Papas desde Pio XII passando por S. João XXIII, Paulo VI, S. João Paulo II, Bento XVI e agora Francisco, tem sabido entregar-se verdadeiramente ao serviço e ao apostolado de Cristo na dimensão confusa e contorcida da nossa atualidade.

Deus tem falado muito! Deus tem feito de tudo para nos revelar a Verdade!
A nossa surdez parece incurável...
E Deus vem; continuamente nos espera, nos ama...olha-nos por dentro...com ternura...e nos diz: "tu és meu; meu filho muito amado". E Deus tem dito isto tantas vezes nos últimos 100 anos através da boca e dos escritos, das ações e dos testemunhos vivos destes sucessores de Pedro...!
E é exactamente esta a preciosa constatação que nos assoma a alma nas leituras das catequeses da teologia do corpo: Isto é Verdade! Onde estava isto a minha vida toda?!


Neste dia tão especial para nós, em que fomos a Roma participar na audiência geral do Papa, para oferecer o trabalho que outras 129 audiências papais nos inspiraram; neste dia em que nos preparámos para, simbolicamente, deixarmos em Roma uma marca visível do nosso desejo interior de sermos Corpo de Cristo; o Papa Francisco inicia um novo ciclo de catequeses sobre a Igreja.
Eu sei, mas ainda me espanta a Providência Divina! Corpo de Cristo que é Igreja...de que outro tema poderia o Papa Francisco falar?...

Para ler a catequese clique - Catequese Papa Francisco 18 Junho 2014

Dia 18/06; 11h00m: o beija-mão/ a nossa oferta
Depois da tradução da catequese em várias línguas, o Papa Francisco volta a cumprimentar os que ali o esperam. A delegação portuguesa teve a honra de ficar sentada nas primeiras filas laterais; 5 tiveram ainda o extraordinário privilégio de ficar mesmo na primeira fila e de poder ter um contato bem próximo com o Santo Padre. 
Foi tão emocionante para todos nós esse momento, que o senti como um desses momentos únicos dos quais se tiram fotografias com o coração.
Partilho algumas fotos do Observatório Romano.

Oferta do livro "O Amor Humano no Plano Divino" (tradução portuguesa) pelo Padre Miguel Pereira ao Papa Francisco

Oferta do livro que reúne as 129 catequeses sobre a Teologia do Corpo proferidas pelo Papa João Paulo II, nas audiências gerais de 4ªfeira, entre 1979 e 1984.

Da esquerda para a Direita:
Papa Fracisco, Padre Miguel Pereira, SS. AA. RR. D. Duarte de Bragança e D. Isabel Heredia, Maria José Vilaça

Oferta do livro com as mensagens deixadas no site www.teologiadocorpo.org por dezenas de cristãos que se uniram a nós nesta iniciativa.

 Oferta do livro "Os homens e as Mulheres são do Eden" de Mary Healy, por Maria José Vilaça ao Papa Francisco.
E este extraordinário momento em que o escultor da cruz Carlos Oliveira aperta a mão ao Papa Francisco. Como é visível o seu sentimento!


Oferta de uma réplica em miniatura da cruz Ut Christus Ecclesiam Amavit ao Papa.

Papa Francisco recebe esta singela réplica das mãos do escultor Carlos Oliveira e do Padre Miguel Pereira.

Sim! É de todo o coração Papa Francisco!

Do coração de todos os que um dia foram tocados pelas palavras de S. João Paulo II nas catequeses da Teologia do Corpo.

Ajude-nos a levar esta boa-nova a mais famílias e casais. A mais jovens. A mais sacerdotes e consagrados.


Rezamos para que a Cruz original seja agora colocada num local onde continue a ter vida; a inspirar vida; a apelar à oração; a interpelar outros homens e mulheres para que descubram quem são e nesse descobrir da Verdade desejem ardentemente ser sinal visível do invisível; desejem ser sinal da Imagem e Semelhança de Deus com que Ele mesmo nos criou; desejem viver a vocação a que Deus os chama transbordando do Espírito Santo; desejem viver com Deus na centralidade das suas vidas; desejem ser famílias que se entregam pela Vida; desejem ser bastões vivos da oração; desejem, enfim, fazer este Caminho que é Jesus Cristo, dando no quotidiano das suas vidas testemunho do Amor! desse Amor Humano no Plano Divino tal como Deus-Pai o desejou!

Graças Meu Senhor e Meu Deus-Pai, porque me chamaste pelo nome...Sofia

sábado, 3 de maio de 2014

SEM TU NÃO HÁ EU

Quando te vi pela primeira vez eu soube que "nós vimos do Céu".
O teu rosto pequenino. O teu rasgar-me o corpo.
A tua serenidade na minha agonia.
O teu grito pela vida na mudez da minha exaustão.
E quando te vi eu soube: "nós vimos do Céu".

E tu olhas-te-me.

E através do teu olhar, eu olhei-me.

Quando te vi pela segunda vez eu soube que "nós vimos do Céu e de lá trazemos a Paz".
O teu rosto pequenino. O meu abrir de corpo para dar-te a vida.
A tua serenidade na minha alegria.
o teu grito pela vida no sorriso de graças do meu coração.
Tu no meu regaço e a paz.
E quando te vi eu soube: "nós vimos do Céu e de lá trazemos a Paz".

E tu olhas-te-me.

E através do teu olhar, eu descobri-me.
Como quem, enfim, se alcança. Como quem, enfim, experimenta o seu próprio mistério: "concebeu e deu à luz".
Compreender-me, agora, diante do homem como mãe, "sujeito de nova vida humana", que de mim nasce para o mundo, fez-me experimentar o mistério da feminilidade que "se manifesta e revela profundamente mediante a maternidade".

Quando te vi pela terceira vez, meu filho, eu soube que "nós vimos do Céu e de la trazemos a Paz e o Amor".
O teu rosto pequenino rasgou-me a alma, "numa descoberta mais profunda do significado do próprio corpo". Corpo que torna visível o invisível.
A tua serenidade no meu espanto.
O teu grito pela vida na oração profunda do meu ser.

E tu olhas-te-me.

E através do teu olhar, eu conheci-me.
Como quem, enfim, alcança pela graça a revelação do mistério inescrutável de Quem Sou (?). Numa "descoberta comum e recíproca, assim como comum e recíproca é, desde o início, a existência do homem que «Deus criou como varão e mulher»".
Como se, enfim, o Amor revela-se a Verdade.

Como se no vosso nascer, eu e o vosso pai, nos realizasse-mos «numa só carne», e assim, nos fosse permitido conhecer-mo-nos reciprocamente, ainda mais profundamente, em vós.
Como se a constatação maior e primeira do Homem (e nesse sentido figurado da própria humanidade) "tu és realmente ossos dos meus ossos e carne da minha carne" se actualizasse em nós na vossa existência, e fosse agora confirmada pelas palavras da maternidade e da paternidade.
Neste novo homem nascido reproduz-se aquela mesma Imagem e Semelhança, que desde o princípio formou a humanidade.
Como se o nosso corpo reflexo em vós nos esclarecesse enquanto Pessoas.
Como se no dom maior de mim mesma, alcançasse a plenitude. Como se nessa nova vida se revelasse a minha alma. Como se no acolher da vossa vida no vosso corpo conhecesse a plenitude do nosso nascer.

"O corpo, de facto. e só ele é capaz de tornar visível o invísivel: o espiritual e o divino."

Em cada um de vós - Tiago, André e Tomás - contemplei a entrada do homem no mundo como sujeito de Verdade e Amor. Como Pessoa chamada à Santidade. Porque "nós vimos do Céu".
Em cada um de vós descobri a vocação humana como sujeito construtor da Paz, como guardião da Esperança.
Em cada um de vós conheci a marca inscrita, desde o princípio, no coração humano: o apelo ao Amor. O apelo ao dom sincero de si, ao superar a si mesmo na perfeição do dom que tudo suporta, tudo espera e tudo alcança.

Neste chamado à comunhão que nos impele a abandonar a solidão e a tomar posse da nossa própria humanidade, homem e mulher, conhecem (através da união) e realizam aquilo que o nome Homem expressa: realizam a humanidade; realizam-se a si mesmos.

É no limiar de um novo nascimento que tomamos consciência de que o nosso corpo (masculino e feminino) encerra em si o significado maior da paternidade e da maternidade e este, enfim, esclarece quem somos, de onde vimos e ao que somos chamados, numa afirmação sempre nova da vida, na irrepetibilidade de cada Pessoa, num mistério comum a toda a humanidade.

Por isso, hoje o afirmo (na celebração do dia da mãe) a cada um dos meus filhos, olhando-os profundamente: "Sem tu não há eu".
E esta mesma frase a repito em cada dia àquele sem o qual tu não existirias e eu não seria mãe: o teu pai.
E juntos, meus amados filhos, a diremos juntos Àquele que revela todas as coisas e que desde o princípio nos concebeu e deu à luz: "Sem Tu não há NÓS!"

Aos meus três filhos-homem que Deus vos prepare com ternura e carinho para um dia descobrirem na vossa paternidade a imensa felicidade de ser Pessoa. E a Maria, nossa Mãe, para que ela vos ampare e pacientemente vos ensine a colher e aceitar os frutos da Verdade e do Amor.

N.b. todas as frases em itálico provêm das catequeses sobre a Teologia do Corpo - 1º ciclo. 


sábado, 5 de abril de 2014

Totus Tuus, Maria

"(...) faça-se em mim segundo a Tua palavra." Lc. 1, 38


Em toda a Bíblia recordo duas passagens com este consentimento. A primeira é de Maria; a segunda de Jesus.
E esta foi a palavra que ontem, enfim, acalmou meu coração (depois de 30 dias de angústia, desânimo e receio).
E de repente veio à minha memória a história de Zacarias...Meu Deus! Como sou como ele!


"Apareceu-lhe, então, o anjo do Senhor (...). Ao vê-lo, Zacarias, ficou perturbado e encheu-se de temor. Mas, o anjo disse-lhe: "Não tenhas receio, Zacarias, a tua súplica foi atendida (...)"."
Zacarias questiona o anjo - "como hei-de verificar isso" - e argumenta - "se estou velho e a minha mulher avançada em anos" (?). E o anjo respondeu: "Sou Gabriel, aquele que está diante de Deus e fui enviado para te falar e dar-te estas boas novas". E como o anjo achou dúvida e desconfiança no coração de pedra de Zacarias lhe diz - "Vais ficar mudo, sem poder falar, até ao dia em que tudo isto acontecer, por não teres acreditado nas minhas palavras". M«Lc.1, 18-20


Quando o Pe. Marco nos desafiou a fazer a consagração Totus Tuus, foi como se o anjo Gabriel nos visitasse. Nós que em Maio passado recebemos o Esposo, estávamos agora a ser convidados para receber também a Esposa. Tudo se iluminava.
Veio ao meu coração a oração desse dia da Efusão em que o Espírito Santo nos chamou "pilares da Sua Igreja". E como ser pilar sem sustento ou fundação? Sem o Espírito Santo e sem Maria?


Mas, no primeiro dia da quaresma, assim que abro a primeira página do livro Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem" um arrepio percorre toda a alma e pergunto: "como hei-de verificar isto, se estou velha e o meu esposo avançado em anos". (O Homem velho em nós é ENORME! óh barrica oca, fedenta, vazia).
Gabriel falou-me como a Zacarias: "fui enviado a dar-te estas boas-novas"...e emudeci.


Cumpri estes 30 dias com esperança, mas também com grande frustração, tristeza e inquietação. Com grande angústia e pouca expectativa. Sempre no limiar de abortar tudo. Porquê? - escrevi a certa altura ao Pe. Marco - não havia de ser fácil este caminho? Afinal, caminhamos para a Nossa Mãe. (se caminhasse para o inferno se calhar não me angustiava tanto...óh cegos de nascença que nem na beira do caminho estão...). O Pe. Marco responde apenas que não é a facilidade que faz o caminho, mas a fidelidade.
E sigo.


A uma semana da consagração, sem querer volto aqui ao blog a recordar as mensagens de 19 de Maio e de 16 de Maio de 2013. Em especial esta última.
De repente cai a ficha e compreendo que o anjo me diz: "Não tenhas receio, Sofia, a tua súplica foi atendida". É minha Mãe Maria a chegar-me alguma coisa do alto. "Esta mãe, doce e terna que intercede sem cessar...esta mãe que cuida, que nos embeleza antes de nos apresentar ao Pai, é imagem da pureza do Amor." (in mensagem do blog de 16 de Maio 2013). É esta Mãe que alcança onde nós não alcançamos...esta Mãe que ora connosco no quarto lá de cima e nos dá todas as coisas do alto.


As mensagens que chegaram de Medjugorge a 2 de Março, 25 de Março e 2 de Abril são como pedras fortes no lago que me permitem caminhar sobre as águas. Operações cirúrgicas de mínima invasão a um coração pequenino. Três furinhos direitinhos ao alvo.


E ontem, pela manhã, mesmo antes da confissão, Maria fala "faça-se em mim segundo a Tua palavra".
O mesmo anjo Gabriel que visita Maria e lhe dirige as mesmas palavras: "Não tenhas receio Maria (...)".
Só uma criatura tão bela e tão intimamente ligada a Deus pode acolher o Espírito Santo dizendo: "Eis a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a Tua palavra."
Só esta Mãe pode dizer por nós o mesmo.


E vejo assim, Maria coser com fio de ouro, a oração da efusão, transformando a nossa casa em casa de oração, e a minha súplica de 16 de Maio.


"Maria, minha mãe, quero pedir-te que me habitues a caminhar contigo na vida. A ter-te por perto. A ser-te filha, de modo a que possa "(...) conhecer os caminhos da Vida" e deixar Jesus "encher-me de alegria com Sua presença".
E assim fizemos o nosso Totus Tuus.




Com gratidão,
obrigado ao grupo de casais de João Paulo II da paróquia do seixal; obrigado ao pe. Marco (pelo desafio e amparo), aos nossos pais (pelas suas orações e apoio logístico), à Débora e ao Paulo, meu irmão (porque já são 18 anos a caminhar, desde as tertúlias de Lisboa à Consagração a Nossa Senhora), à Isabel e ao Carlos (porque o caminho partilhado é sempre mais feliz e fecundo) e  ao Pedro (porque Deus nos chama pelo nosso nome Sofia&Pedro, e sem ti nada teria sentido)

segunda-feira, 17 de março de 2014

O Homem: da solidão original à consciência que o faz pessoa


não há nada mais ontológico ao homem do que esse buraco cavado no peito que, tantas vezes, parece emergir do mais profundo de nós, mostrando como que uma outra galáxia além.
Lugar de solidão profunda, de descontentamento sem motivo aparente, onde nenhum pode dizer que existe como se conhece.
Lugar onde às vezes parecem habitar os duplos ou triplos de nós (sem sê-lo).
Esse murro contra o peito exerce um peso na alma.

Por ser como que um fosso, o enchia de água, e aí ficava como criança na beira da praia a ver o mar chamar a si o que a ele lhe pertence. E esse fosso seco, sem utilidade e sem função, suga-nos de fora para dentro como um buraco negro.
Não há como fugir dele: é ontológico.
Até há pouco tempo não sabia como nomear este lugar.
Hoje, chamo-lhe solidão.
E descobri que este lugar existe em todos nós. Todos, os que partem em busca da definição de si mesmos, o encontram. Todos os que se encaixotam dentro de contentores pré-fabricados de existência o vivem. Todos nós. Como uma marca que caracteriza a nossa subjectividade.
Não há nada mais ontológico.

Minto, há outra coisa ainda mais ontológica em nós: a nossa vocação à comunhão.

Parece-me, no entanto, que muito precocemente se apressa o homem a alcançar a comunhão sem compreender a si mesmo, e não raras vezes se perde este homem em amontoados de gente.
Para se descobrir logo em seguida, e sempre, só. Profundamente, só.

Este sentido de solidão atravessa toda a nossa história. Não há grande religião que não fale dele, nem filosofia séria que não o estude.
E maravilho-me sempre que descubro um texto antigo que fale nele. Como se a consciência desta solidão fosse o primeiro exercício da auto-consciência humana. Quando primeiro a nossa matéria passou de viva a consciente, logo nos demos conta da nossa solidão. Como característica que nos separa do resto dos seres vivos (da animália) mas também, e principalmente, como contorno específico de cada ser humano. Sou só, não apenas porque me diferencio do resto do reino animal, mas também porque em mim faço uma experiência de solidão que me mantém só, mesmo quando diante de outro ser-humano. E é ainda mais surpreendente que esta auto-consciência seja prévia à consciência de comunhão.

Conhecer e compreender este lugar de solidão original é ao mesmo tempo um exercício de consciência pessoal do que em nós se faz pessoa. Nele se encontram a auto-consciência e a auto-determinação.
Porque o que cada um de nós faz com esta marca antropológica é determinante.

Encontro agora neste lugar não mais um buraco ou fosso que deva encher de água, mas uma terra que devo lavrar para nela semear (ou deixar que a semeie o Semeador).
Prepará-la com terra boa para que dê fruto bom.

E que fruto é esse?
Aquele que nos leva a compreender que não somos apenas animais racionais, mas seres auto-conscientes; que não somos apenas homens livres, mas pessoas auto-determinadas; que não nos resumimos a ser animais sociais, mas que atingimos a nossa plenitude quando somos dom para o outro; e que a virtude só existe realmente quando exercemos o nosso auto-domínio.

Hoje, parece-me assim de contemplar este lugar de solidão de onde partimos como dom para o outro.

O que mais me seduz no texto javista do relato do Génesis, é que o homem toma consciência da sua solidão depois de Deus o ter sentado do trono e de lhe ter confiado a tarefa de nomear toda a criação. Parece-me assim, que nem o poder, nem a glória de ser co-autor com o Absoluto preenchem o homem. Não é de estranhar? Se na nossa sociedade atual o que mais os homens ambicionam são o poder e a glória?
Não é de ficar perplexo ao  compreender que isto ao homem não o preenche?

Que ambicionar então? Se agora, como antes, o que mais desejamos é um coração feliz?
Seria de escutar este coração humano que bate há tanto tempo, e que há muito descobriu no outro (ser-humano) a sua primeira expressão de felicidade: "Tu és realmente carne da minha carne, ossos dos meus ossos".









domingo, 19 de janeiro de 2014

O Ser é o lugar da Fidelidade

"O Ser é o lugar da fidelidade...sou na medida em que estou comprometido com. Nessa medida sou, senão não sou."
E regressamos à famosa questão "ser ou não ser".
O que define quem somos? O que há em nós que é constitutivo do nosso próprio ser? Há porventura algo em mim anterior a mim mesmo que me defina mesmo antes da minha existência?
Se é o compromisso que define o meu ser, então não existo eu sem ser em permanente relação com o outro. E isso que significa?





O ser - humano é sempre relacional, isso é um facto. Resulta até que é relacional desde o seu princípio, pois que uma relação primeira o leva a existir: a relação de filiação. Não posso ser sem ser filho de ...
Nesta palestra da Dra. Blanca Castilla somos conduzidos numa viagem pela filosofia moderna em busca do ser. E eu gostei particularmente de compreender que apenas, quando em encontro com o outro, me defino e me conheço. Não me posso existir sem existir em relação com alguém, seja esse alguém minha mãe, pai, irmão, filho, marido ou mulher, neto, sobrinho, amigo.
Sou, porque sou algo para o outro. Sou, porque sou algo com o outro.
E é na medida desse compromisso, que sou.

Nessa medida o ser humano nunca é sozinho, mas apenas é com o outro.
E surge aqui o homem e a mulher como seres duais e complementares (porque um apenas se compreende verdadeiramente quando face ao outro; porque apenas a masculinidade revela verdadeiramente o que é a feminilidade e apenas o ser feminino pode revelar ao homem a verdade sobre o ser masculino. Aqui não se pode negar a própria fisiologia do corpo humano).

Talvez valesse a pena fazer uma releitura das nossas opiniões quando às relações inter-pessoais que construímos, à luz desta verdade: o ser é o lugar da fidelidade.

veja o video em :
Palestra 11 Dra. Blanca Castilla