domingo, 26 de abril de 2015

A ARTE permeada pela PUREZA revela a PESSOA (parte I)

Parte I da reflexão sobre as catequeses de S. João II dedicadas à arte (TdC 60 a 63)

A Fé
Segundo S. Paulo a fé é uma autêntica força que opera no Homem e que se revela e afirma nas suas ações.
Esta força opera no Homem que vive segundo o Espírito.
A própria fé é um dom do Espírito.
O Ethos da Redenção confere ao Homem a possibilidade de viver segundo a ética da redenção. Os seus comportamentos, ações e virtudes alinham pela ética da redenção. Esta acontece - exprime-se e afirma-se - através daquilo que no Homem, em todo o seu «operar»- ações, comportamentos e virtudes - é fruto do domínio sobre a tríplice concupiscência: concupiscência da carne, dos olhos e da soberba de vida.(TdC, cat. 51,5)

Relação entre espírito do homem e Espírito de Deus
O Ethos da Redenção manifesta-se e realiza-se como amor, paz, paciência, benevolência, bondade, fidelidade, mansidão e domínio de si -precisamente os 8 frutos do Espírito de Deus.
Cada uma destas realizações envolve uma escolha específica por parte do homem; um esforço de vontade. O Espírito oferece os Seus dons aos que os desejam.
Mas, este esforço humano só quando permeado pelo Espírito Santo se traduz na escolha do bem.
Na luta entre o bem e o mal, o Homem torna-se mais forte graças ao poder do Espírito Santo que, operando dentro do espírito humano, faz com os desejos do Homem frutifiquem em bem. (TdC, cat. 51,6)
Nesta luta está envolvido o esforço humano e está comprometido o Espírito Santificador.

O apelo do Ethos da Redenção
O Ethos da Redenção faz um apelo forte ao coração do Homem.
Apela a que o Homem disponha da sua liberdade para fazer o bem, para escolher o que é certo.
A liberdade deve sempre submeter-se à ética.
A liberdade para a qual Cristo nos resgatou é aquela que encontra a sua plenitude na caridade.
A caridade como expressão de um amor total, livre, fiel e fecundo.
Este dom sincero de si mesmo nasce no interior do coração humano que para o alcançar deseja a pureza.
"A vontade de Deus para nós é a nossa santificação" - in TdC, cat. 54,1.

A Pureza
A pureza é, por uma lado, uma aptidão/ virtude: capacidade prática de agir de determinada forma que é e está orientada para o bem; como, por outro, é um dom do Espírito de Deus. E só quando realmente a nossa capacidade humana é permeada pela vontade de Deus é que podemos agir, sentir e pensar com a pureza que Deus deseja.
Ações, sentimentos e pensamentos que se orientam para a caridade e para o dom sincero, total, livre, fiel e fecundo de si mesmo.

Do coração humano procede a pureza.
Do lado trespassado de Jesus procede a Salvação.

A pureza tem a sua fonte no interior do Homem.
A Salvação jorrou do coração de Jesus.

Depois da morte, a ressurreição.
Depois da ressurreição, a vinda do Espírito.

A pureza como virtude e como dom, num interligar da virtude com o dom, é a glória do corpo humano em Deus e a glória de Deus no corpo humano.

O corpo-pessoa como critério para a arte
Na visão paulina e na visão de S.João Paulo II, o corpo não é o conjunto das estruturas físicas ou biológicas,mas a expressão visível da pessoa.
O corpo, de facto e só ele, torna visível o invisível. É a própria pessoa que se torna visível através do seu corpo.
É indispensável reter este critério quando apreciamos obras de arte ou manifestações artísticas e culturais que retratam o corpo. Em todas elas o corpo retratado - pintado, esculpido, desenhado, escrito, falado, filmado ou fotografado - revela a pessoa.

A salvação do Homem envolve manter o corpo em santidade e respeito. Então, mesmo na expressão artística, devemos procurar manter esse critério.
Não temos um corpo. Somos um corpo.
Ao representar o corpo através da arte, representamos na realidade a pessoa.
É à luz deste "fio de avaliação" que somos chamados a avaliar toda a manifestação artística que retrata o corpo humano.

Esta avaliação é justa e é tarefa própria de toda a cultura: da literatura, escultura, pintura, dança, teatro, cinema, fotografia e até mesmo da cultura de vida quotidiana, privada ou social.

O artista, primeiro juiz do seu trabalho, é chamado a ter bem desenvolvido este sentido de auto-avaliação. Para tal, terá de permitir que fé "opere" em toda a sua criação artística, submetendo o seu espírito ao Ethos da Redenção, deixando que o Espírito de Deus permeie o seu agir, o seu pensar, o seu sentir e o seu criar, através de um profundo empenho em que o próprio Deus seja glorificado na sua obra.

(continua...)