domingo, 8 de março de 2015

Será que a visão RX pode realmente captar a nossa essência?

Anda, nestes dias, a circular pelo facebook  uma campanha que procura mostrar que somos todos iguais e que o Amor não tem género, raça, idade ou outra coisa qualquer.
Esta campanha mostra pessoas atrás de uma grande tela de Raio-X, onde só se vêem os ossos do esqueleto. Nada mais se vê, porque o Raio-X foi precisamente criado para apenas mostrar os ossos.

Mas, será que se pode afirmar que a visão Raio-X mostra a essência de quem somos?
Será que se pode dizer que estamos a mostrar o nosso interior quando mostramos o nosso esqueleto?

Na minha opinião não.

Porque a Pessoa Humana será sempre alguém que tem corpo. E um corpo formado por carne e sangue e ossos...e pele...e pêlo...e orgãos.
E para além de corpo, tem alma e espírito.
E na visão Raio-X não se capta nem o sangue, nem a carne, nem a alma, nem o espírito. Ou seja, não se capta de todo a pessoa (nem o todo da pessoa).
É impossível querer reduzir a pessoa a esta forma e tentar a partir daqui compreender e explicar o que de mais sublime há em nós: a nossa vocação ao Amor.

Muitos têm partilhado este video, sem sobre ele fazerem a mais breve reflexão. Mas, bastaria colocar atrás da tela o seu filho, pai ou mãe (ou até mesmo o seu amado ou amada) e perguntar a quem pertence aquele esqueleto, para perceber que jamais poderíamos acertar na resposta. Não nos conhecemos uns aos outros pela estrutura organizada e funcional dos nossos ossos, apesar deles nos serem muito úteis.
Precisamos de mais; de muito mais. Precisamos do corpo todo; da alma toda; de todo o espírito.

Parece-me que a maior falácia da filosofia mal feita dos nossos dias é apresentar conclusões a partir de raciocínios errados. As conclusões até podem ser verdadeiras, mas o caminho para demonstrar essa verdade tem de ser verdadeiro também. Caso contrário não serve. E é exactamente isso que se passa nesta campanha. Vale a pena sermos mais exigentes na valorização que fazemos de nós próprios e na defesa que fazemos do Amor.

O Amor é uma atividade verdadeiramente humana porque nela se manifesta a pessoa humana e na qual o corpo (carne e ossos) se revela fundamental, na medida em que é precisamente esse corpo que expressa o Amor.
Juntamente com a autoconsciência e a autodeterminação, o corpo expressa a pessoa.

Deste modo, torna-se fundamental para o Homem compreender o significado do seu próprio corpo.
As emoções nascem espontaneamente na alma e a afetividade faz com que as emoções surjam como expressão pura do espírito, mas são tornadas visíveis através do corpo.
De facto o corpo, e só ele, torna visível o invisível.

Quando quebramos este entendimento , seja de que forma for, e separamos as duas dimensões, ambas perdem o seu sentido.

Portanto, nas conclusões que houver a fazer sobre o Amor Humano será sempre necessário garantir a unicidade do corpo (todo o corpo e não apenas uma parte) com a alma e o espírito. E se para chegar a dizer algo sobre o Amor Humano for preciso fazer um caminho redutor da pessoa, então será de questionar se é verdade aquilo que afirmamos.