Querido Tiago,
se um dia acordares no meio de um turbilhão de perguntas, lembra-te: ergue os teus olhos para o céu.
Aí encontrarás as respostas que procuras porque aí está quem te pode responder.
A verdade é ontológica. Não uma realidade ferida como o mundo nos faz crer. Não uma distorção redutora que nos aprisiona num beco sem saída. Mas, antes, uma graça abundante que nos faz quietar diante do que é bom e belo.
(Não queiras nunca menos do que isso. Detém-te nesse portento.)
Lembras-te do buraco de areia vazio? Aquele que tentávamos encher de água sem cessar? Aquele que não se saciava? Aquele lugar que nomeámos solidão.
Lembra-te quando, finalmente, nos deslumbrámos por perceber que esse lugar é terra boa para semear.
Que é de ti nascente?
Que escorres solitária montanha abaixo.
Que é de ti Homem?
Que te vais sem saber onde e vens sem saber donde?
Não estarás tu como Adão?
Sentado no trono da criação:
nomeando todos os seres e sentindo solidão?
(quantas lógicas imperfeitas? quantas angústias? quantos argumentos mais?)
Não estarás tu, mulher, como Teresa?
Caminhando na noite escura da montanha,
e no meio da natureza, sentindo admiração estranha?
Por tão grave desequilíbrio.
Se naquele escuro breu,
só o homem parece perdido. Só eu.
Que há em nós que se agita?
Que há em nós que se ergue e grita? (Pára!)
Que há em nós que se esconde e foge?
Se queres mesmo saber de onde vens nascente: caminha.
Caminha para cima. Para cima, contra a corrente.
Sofia