quinta-feira, 4 de agosto de 2011

O poder de uma decisão

"Moisés apascentava o gado de Jetro, seu sogro (...). Um dia, conduzindo o rebanho para além do deserto, chegou ao monte de Deus: o Horeb." Ex.3, 1

Que história extraordinária encerra Moisés. Ele que já havia sido alto funcionário do Egipto, irmão de criação do Faraó, hoje era pastor e apascentava o gado de outra pessoa no deserto.
Imagino Moisés imerso na sua própria crise de identidade, sem saber mais quem era, também não sabia o que fazer. Apascentava o gado no deserto e a ele mesmo se apascentava vagueando entre as escasas ervas do seu deserto interior. Esta figura bíblica terá de certo vivido a revolta de quem descobre a sua origem e já não pode ser o que se pensava, nem passar a ser o que lhe afirmam. Ter-se-á perdido nas ideias baralhadas e confusas e, talvez por isso, se tenha refugiado no deserto, esquecido numa rotina calma e errante.

Quantas vezes nós próprios nos refugiamos no deserto da rotina calma de quem só apascenta ovelhas? E nem nossas as ovelhas são(!), que isso seria já uma enorme responsabilidade...são de outro; de outro alguém; nosso apenas o dever de as conduzir por aqui ou por acolá, por entre as ervas e o deserto.

Mas, um dia, decide Moisés ir além do deserto.
E tudo muda.

Decidindo ir além da sua rotina, do que lhe era já conhecido como caminho; decidindo aventurar-se para além da sua zona de conforto, Moisés abre espaço para que o inesperado e o maravilhoso aconteça.
Quando se aventura, dentro e fora de si mesmo; quando quebra as suas próprias correntes, é o Anjo de Deus que lhe aparece!

E Deus aparece a Moisés numa simples e quotidiana sarça a arder. Creio que no deserto quente não seja assim tão especial ver um arbusto ou pequena árvore a arder. Tal deve ser uma imagem rotineira. O que era, então, especial?
A sarça ardia mas não se consumia. Isso é extraordiário!

Quantas vezes Deus nos surge nas realidades quotidianas da nossa vida, nos atraindo pela curiosidade de quem vê naquela imagem de sempre algo todo diferente?
Deus fala-nos de forma extraordinária nos eventos mais simples da nossa vida.

"Disse (Moisés) consigo: «Vou aproximar-me e examinar esta visão tão extraordinária, porque razão não se consome a sarça?»
O Senhor viu que ele se tinha aproximado para observar; e Deus chamou-o do meio da sarça: «Moisés! Moisés!»"

O poder da decisão de Moisés é este «Vou aproximar-me»

Moisés decide aproximar-se. Apenas para observar aquela imagem extraordinária, e Deus vê que Moisés se aproxima e já não o deixa ir embora.

Ao ler este texto firmo em mim a crença de que Deus está sempre aqui tão perto à nossa espera, pronto para nos chamar pelo nosso próprio nome. Deus só precisa que a nossa decisão interior seja tomada. Temos de nos decidir a ir além do nosso deserto; a adentrar-mo-nos mais em nosso ser; a quebrar com as correntes confortáveis da nossa rotina; e abrir espaço para que o maravilhoso possa acontecer.
E se o nosso desejo interior for encontrar Deus, de certo que Ele mesmo virá ao nosso encontro, atraindo-nos na simplicidade do nosso dia, e nos chamando pelo nome.

"Ele (Moisés) respondeu: «Aqui estou»".
E logo em seguida Deus lhe confia a missão que havia preparado para ele.

Deus tem para cada um de nós uma missão especial.
Para cada um, Ele tem um sonho, um projecto. Só à espera do nosso «Aqui estou».
Não podemos deixar de dar esta resposta a Deus. Não podemos continuar a adiar o nosso «Aqui estou».
O nosso mundo, o nosso dia-a-dia, a nossa família, a nossa zona de influência, precisa do nosso «Aqui estou!» - gritado alto e convicto no silêncio dos gestos, nos ecos das escolhas, na esperança renovada.

Deus está a chamar-nos pelo nome. Deus tem um plano para cada um. Ele precisa de cada um. Não dá para ficar indiferente. É preciso sermos cristãos informados e esclarecidos. Consciêntes da nossa missão. Sabedores de que o nosso Deus é sempre um Deus de Amor. Um Deus que espera. Por isso, o nosso desejo de o servir não pode conduzir-nos à violência, nem à intolerância. Principalmente, se outros à nossa volta não proferirem a mesma fé. O nosso Pai, é Pai de todos e a todos chama pelo nome.

Dá, hoje a tua resposta a Deus. Dá hoje o teu «Aqui estou.»

E quando Moisés duvidando da sua capacidade para realizar a missão que Deus lhe confiava, pergunta: «Quem sou eu para ir ter com o Faraó?»
Deus responde:  «Eu estarei contigo».

Aos cristão não faltará esta presença de Deus, esta companhia que capacita, fortalece, protege e guia. Quando cumprimos a missão de Deus para nós, Ele mesmo estará connosco.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

"Amai os vossos inimigos" Lc. 6,27 ; Mt.5,43

Desconcertante no seu tempo; desconcertante hoje. Esta instrução de Jesus continua a ser o mais alto dos desafios para aqueles que desejam segui-Lo.
Muitos, não só se sentem confusos, como também, confundidos, desertam do caminho e procuram versões soft de humanidade q.b.
Não podemos, no entanto, negar que esta ordem de vida nos empurra contra o mais profundo de nós. Lá nesse colosso onde mantemos prisioneiros os inimigos, é onde se ouvem os ecos de Jesus: "Amai os vossos inimigos; Fazei bem aos que vos odeiam; Abençoai os que vos amaldiçoam; Rezai pelos que vos caluniam."
Se eu não acreditasse em Jesus, teria pelo menos de admitir que esta voz não é humana. Qual de nós, no melhor dos seus dias, no mais agradável dos momentos, diria uma frase destas? Uma só? ninguém. Quanto mais quatro! e de seguida!

Mas, que vem a ser isso de Amar?
Podemos afirmar que Amar é o acto de respeitar o outro; de desejar que o outro seja melhor amanhã; de fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para que essa melhoria aconteça.
Amar é sentir algo de bom pelo outro; é ter compaixão pelo outro; é desejar-lhe felicidade.
Desejar-lhe a verdadeira felicidade.
E para o cristão, qual é a verdadeira felicidade? melhor, Quem é a verdadeira felicidade?
Para o cristão, a verdadeira felicidade é conhecer a Deus-Pai, através do Filho, pela graça do Espírito.
Para o cristão, a verdadeira felicidade é conhecer ao Pai-Criador, ao Filho-Salvador e ao Espírito que santifica.
Então, (e neste momento ilumina-se a minha inteligência mediocre que se sentiu tão avassalda diante da primeira frase: "Amai os vossos inimigos"), amar os inimigos é desejar que eles conheçam Jesus e reconheçam a Deus: Pai amoroso, justo, bondoso e misericordioso.
E assim, os nossos inimigos, depois de conhecerem a Deus, não o serão mais.

E quando eu amo, quero fazer tudo, tudo o que está ao meu alcance para que a pessoa amada seja feliz.
Que pode o cristão fazer? O que é esse tudo que está ao nosso alcance?
Não nos remete aqui o pensamento para a missão evangelizadora do cristão?
Nos actos pequeninos do quotidiano, no pensamento puro, na acção virtuosa, no perdão esclarecido, na paz construída.
O cristão vive o amor entregando-se com empenho ao amor.
Amar, como cristão, é desejar ao outro a experiência da verdadeira felicidade.

sábado, 21 de maio de 2011

Um tempo para ensinar...

"Eu não me Importo com Quanto você Sabe até Saber Quanto você se Importa"

Neste mês de Maio, vivemos, de forma especial, a maternidade. A Igreja vive intensamente a devoção a Maria - mãe de Deus e mãe dos Homens - relembrando a plenitude da sua entrega, recolhendo a humildade do seu sim, e aprendendo com o seu exemplo.
Nem mesmo a sociedade civil fica indiferente a esta realidade extraordinária que é a maternidade, dedicando-lhe no calendário um dia especial. Um dia que é Domingo, dia da família por excelência, dia do reencontro e da celebração da vida.
Por estes dias, assistimos a tantas manifestações de jovens e menos jovens que, de forma mais ou menos pacífica, exigem a construção de uma nova sociedade. Reclamam a falta de valores - que valores? - e exprimem com afinco a necessidade urgente de reestabelecer os princípios - que princípios? - que são as Leis Primárias da Vida.
Neste belíssimo mês de Maio, valerá a pena, concerteza, relembrar que os valores e os princípios fundamentais da vida humana começam na família, e de forma particular na maternidade. Quem é mãe sabe o quanto se estende esse papel na vida dos filhos, muito para além de cuidar deles enquanto bébés, muito para além de os proteger enquanto crianças, de os corrigir enquanto adolescentes e de os apoiar enquanto adultos. A maternidade é o próprio verbo AMAR conjugado em todas as pessoas e em todos os tempos o tempo todo.
Mãe é sempre aquela que mais se importa e é sempre isso o que mais importa aos filhos. Nessa mágica constante, nesse querer-bem contínuo, a mãe é a principal educadora da família. Assim, sobre a mulher-mãe recai uma missão extraordinária, que, sem a graça de Deus, não me parece nem possível de começar. Acredito que as mães guardam um lugar muito especial no coração de Deus, e que encontram particular afecto, carinho e força, no coração de Maria.

Encontrei entre as páginas de um pequeno livro salesiano um pequeno Decálogo dos Pais. Transcrevo aqui essas considerações. Que estas pequenas recomendações, repletas do espírito de Dom Bosco, possam ajudar as mães (e pais), a "estabelecer a caridade, nascida de um coração puro, de uma boa consciência e de uma fé sincera" (1Tim. 1, 5) para que os seus filhos possam percorrer o caminho de Cristo, passando de "almas viventes" a "espíritos vivificantes". (refª 1Cor. 15, 44).

Decálogo dos Pais
1. Amarás o Senhor, nosso Deus, sobre todas as coisas e com a Sua graça saberás amar os teus filhos, com um amor sem limites. Amá-los-ás mais do que à tua profissão, ao teu nome, ao teu tempo, ao teu saber e ao teu poder.

2. Invocarás o teu nome e condição de mãe e de pai, não tanto para exigir e mandar, mas para educar as vidas que te foram confiadas. Saberás que a verdadeira autoridade passa mais pelo modo como vives e pelo que fazes, do que por aquilo que dizes. O testemunho de vida será a forma simples e espontânea de irradiar valores e as palavras que proferes serão sinal quotidiano das tuas responsabilidades parentais.

3. Saberás guardar e respeitar para ti e para os teus filhos, o descanso necessário ao refazer de energias, tanto espirituais, como físicas. Aproveitarás os tempos livres como oportunidade excelente para desenvolver, na família, uma relação de proximidade e intimidade, de conhecimento e entreajuda.

4. Honrarás o papel irrenunciável e insubstituível de mãe. Primeiro e principal educador.

5. Farás da família o habitat natural da vida humana, na sua génese e no seu desenvolvimento. Serás testemunha, pela tua entrega, de que não há maior prova de amor do que dar a vida; cultivarás nos teus filhos o mesmo amor e apreço pela beleza da existência e ajudá-los-ás a querer prolongar a herança da vida.

6. Criarás um clima de amor e afecto sem excluir da ternura a disciplina e o esforços da integridade. O ambiente familiar animado pela afeição é a atmosfera educativa por excelência.

7. Não furtarás aos teus filhos o tempo para o diálogo. O amor gratuito, a atenção ao outro, a prática do diálogo e do perdão serão a grande escola dos valores e de uma vida em comunhão e em comunidade, a chave do verdadeiro sucesso.

8. Não te enganarás a ti próprio ignorando a verdade a respeito dos teus filhos.

9. Saberás fomentar o valor da amizade e o respeito pela intimidade.

10. Confiarás os teus filhos a Deus, na certeza de que eles não são apenas fruto das tuas escolhas e atitudes. São eles próprios, na sua originalidade e liberdade, no seu ser e circunstância, filhos de Deus-Pai.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

A Reconciliação

Aproxima-se a semana Maior e a Igreja apela à reconciliação para que se viva plenamente este tempo pascal. Relembro, hoje, duas histórias da Bíblia, primeiro Paulo e Marcos, depois Jesus.

Na 2ª Carta a Timóteo, no cap. 4, versículo 11, Paulo escreve "Toma contigo Marcos e trá-lo porque me é muito útil para o ministério."
À primeira vista esta frase até parece banal, mas recordemos que Paulo se sente no fim da sua vida. Alguns versículos antes Paulo diz "Quanto a mim, estou pronto para o sacrifício e o tempo da minha partida já se aproxima." Este sentimento de fim de vida terrena, transparece na escrita de Paulo e concerteza estaria presente no seu coração, fazendo-o recordar e refletir em toda a sua caminhada, no seu serviço e no seu ministério.
Alguns anos antes, Paulo e Barnabé haviam discutido violentamente por causa de Marcos (Actos 15, 39). Tão violenta foi a discussão que Paulo e Barnabé se separaram. Eles que até então tinham percorrido tantas cidades juntos, evangelizando, enfrentando tantas tormentas... Mas, Paulo, naquela ocasião não soube perdoar Marcos por este se ter afastado deles na Panfilia e não ter enfrentado as batalhas próprias do serviço.
Paulo não perdoou.
Por causa disso, Barnabé tomou consigo Marcos e seguiu para Chipre, enquanto Paulo tomou Silas e seguiu para a Síria. Aqueles que até então foram um dupla de amigos, de irmãos em Cristo, unidos. Imagino quanta amizade teriam um pelo outro. E por causa de Marcos separaram-se. Como deve ter sido doloroso! Como se deve ter espalhado a notícia da separação dos dois e de que Marcos era o causador de tamanha rixa. Como se sentiu Marcos naquela ocasião, sabendo que Paulo não o perdoava?

Agora, aquela frase de Paulo, dita na carta a Timóteo já não é banal. Paulo pede a Timóteo: "Toma contigo Marcos e trá-lo". Paulo chama Marcos. E reconhece: "porque me é muito útil para o ministério".
Estamos aqui diante de um perdão.
Uma acção reconciliadora. Um perdão que deve ter custado a Paulo o confronto com a sua própria natureza pequena e mesquinha. Um perdão que deve ter forçado Paulo a reconhcer-se a si mesmo, a julgar-se a si mesmo.
Nesse tempo de fim de vida, Paulo, enfim, reconhece a capacidade de Marcos (seu irmão em Cristo) e a sua própria incapacidade (de perdoar) e pelo perdão Paulo se capacita - não a Marcos, mas a si mesmo -de Deus.

Jesus apela constantemente a este acto de reconciliação com os outros. Ele chega mesmo a dizer que se estivermos no altar e nos lembrarmos que não estamos em paz com  um irmão, devemos deixar tudo e ir primeiro ao encontro desse irmão a fim de restabelecermos com ele a paz.

Nestes dias que antecipam a grande festa da Pascoa, possamos meditar sobre a reconciliação e agir para que nos reconciliemos com todos, em especial com aqueles a quem Jesus nos pede para amar: os nossos próximos. Muitas vezes, lemos este mandamento "Ama o teu próximo como a ti mesmo" e nem nos ocorre que esse próximo é aquela pessoa que está mesmo ali ao nosso lado e que connosco vive e convive: o nosso marido (a nossa esposa), os nossos filhos, noras, o nosso irmão ou a nossa irmã de sangue, a nossa mãe, pai, sogra ou sogro, o colega do trabalho que nos chateia e aborrece. Enfim, são aqueles que connosco convivem que atropelam a nossa vida, porque são esses que nos desafiam e nos atingem com as suas escolhas, decisões, acções ou falta delas. Mas, é a esses - os nossos próximos mais próximos - a quem Jesus primeiro nos pede que amemos e que com eles vivamos reconciliados.

Este é de todos, o exercício humanamente mais díficil, pois quando temos de perdoar alguém, o nosso pensamento costuma encher-se de orgulho, a nossa visão só vê o mal, a mágoa, a nossa recordação só lembra o que o outro disse ou fez e que nos magoou. Nesse momento, a nossa humanidade não nos mostra, nem por um segundo, o fraco barro de que também nós somos feitos. As nossas acções, as nossas palavras, ficam tão turvas que nem nos lembramos delas. E também nós só fizémos mal porque o outro nos fez mal primeiro! Ora essa!
...Somos todos iguais neste ponto... Mas, já que nunca somos os primeiros a fazer o mal, que sejamos sempre os primeiros a fazer o bem! A perdoar! verdadeiramente e intimamente e a dar o primeiro passo para reconstruir a paz com o nosso próximo!

Proponho que tenhamos todos esta intenção na nossa oração desta semana: Jesus ensina-me a perdoar.
Santa Páscoa!

segunda-feira, 4 de abril de 2011

A tua Fé te salvou.

Ao lermos os evangelhos somos surpreendidos por esta expressão de Jesus: "A tua fé te salvou.". Assim, encerra Jesus todos os episódeos de cura, todos os milagres que faz.
Sempre nutri esta curiosidade pela pergunta (poderosa) que Jesus coloca a todos os que O buscam suplicando uma cura, um milagre: "Tendes fé?" "Acreditas que Eu posso curar-te?" . Aqueles que responderam "SIM, eu CREIO!", esses receberam a cura e a salvação, e a esses Jesus disse: "A tua fé te salvou".
A dinâmica da fé assume assim toda a sua importância e esplendor. Não é porque Jesus é o Filho de Deus, onmipotente, que os milagres são realizados, mas porque o Homem que O procura e pede o milagre acredita firmemente que Jesus pode curar. Claro, que Jesus poderia curar mesmo se o Homem não quisesse, se até das pedras Ele pode fazer nascer filhos de Abrão. Mas, não iria isso contra o plano de liberdade de Deus para com o Homem? Que aprendizagem poderia o Homem receber de uma graça que não reconhece? Que não deseja e que não espera?
Assim, Jesus nos deixa esta poderosa lição sobre a fé.
É preciso o Homem acreditar, esperar e desejar. É preciso o Homem abeirar-se de Deus com fé pura e grandiosa em seu coração, para que todo o poder de Deus possa actuar através do Espírito Santo.
A nossa fé não é, pois, coisa pequena. É ela que move montanhas! As montanhas enormes da nossa vida e do nosso mundo! É ela que nos faz ir mais longe, mais além! É ela que nos sustenta na tribulação e nos alegra na esperança!
Os cristãos têm em si esta extraordinária ferramenta de vida: a FÉ EM CRISTO! Esta crença libertadora, potenciadora, que nos alavanca, que nos fortalece!

Mas, quantas vezes nos comportamos como se não conhecessemos Cristo? Cabisbaixo enfrentamos o dia-a-dia, sem ânimo, sem vontade. Já somos só desilusão e descontentamento. Já somos só revolta (ou pior, indiferença). Quem é assim não pode ser de Cristo.
Por isso, tenhamos cuidado e estejamos atentos ao nosso ser. Sabendo construir um coração puro que acredita sempre na vida, na sua verdadeira e plena dimensão. Um coração que não definha diante do problema e que não se desgasta diante da mesquinhez, mas que se fortalece na provação e que se entrega ao Amor e à Alegria que vêm de Jesus.

A fé constrói na pessoa um legado de paz. A fé anima a pessoa para uma luta valiosa: a realização dos sonhos de Deus!
Os cristãos, animados por sua fé, devem assumir hoje a sua verdadeira missão: construtores de um mundo vivo e cheio de graça. Aqueles que são rosto de uma esperança concreta e real alicerçada no que há de mais essêncial e profundo. Aqueles que oferecem ao mundo um caminho novo, digno e verdadeiro. Aqueles de quem transborda um fé contagiante, alegre e firme. Esses são os cristãos!

Nem, sempre é fácil, bem sei, que não é (quem não o sabe?!). Por isso, é que é importante o apoio e amparo dos grupos e comunidades cristãs, a leitura e estudo da Bíblia e, acima de tudo, a perserverança da oração intima, pessoal e diária com Deus.Como dizia o Pe. Paulo Ricardo da Canção Nova um destes dias numa palestra: "Em cada um de nós que somos filhos de Deus, existe um filho da mãe!" Este filho da mãe é a maior luta que cada um de nós trava. A missão de evangelizar é também e, antes de tudo, uma missão pessoal de evangelizar esse filho da mãe que cada um de nós é! Conquistar para Deus todo esse imenso território que existe em cada um de nós e que ainda não Lhe pertence!

Nesta segunda metade da quaresma podemos fazer este exercício de evangelizar o nosso próprio coração, descobrindo dentro de nós toda a força da fé que nos anima. Deixar que brotem rios de água viva no nosso interior. Deixar que o Espírito Santo nos ensine o poder imensurável da fé!

Veja o exercício de coaching: CRENÇAS na página Coaching para Famílias

sábado, 12 de março de 2011

Jesus Cristo: o Servo

Neste início de Quaresma, importa olhar perto e dentro d'Aquele a quem temos por guia e inspiração. Falámos já aqui que Cristo está no centro da família. Por Ele compreendemos que a família é mais do que um aglomerado de gente, é uma vivência vocacional, um chamado divino sublime.
Através de Cristo, sabemos que toda a família tem uma missão a cumprir.
Somos convidados de Cristo neste grande banquete que é a vida plena em família. Ele, pessoalmente, nos convida a concretizar a nossa missão familiar vivendo quotidianamente os Seus valores.
Cristo nos convida, nos desafia, nos inspira, nos ensina, nos suporta e guia.
Vale a pena fazer este percurso quaresmal olhando de perto este Jesus que para além de tudo ainda se fez nosso servo. Que esta reflexão nos possa conduzir na descoberta do sentido do serviço a que nós, também enquanto família, somos chamados.
Deixo-vos, hoje um texto de Maria de Lurdes Azadinho que assim nos dá o seu contributo para que este blog seja também um espaço de debate e construção de ideias.

Jesus Cristo, O servo sofredor
Narra a Bíblia que um mestre em leis perguntou a Jesus em certa ocasião: "Qual é o mandamento mais importante?" ao que Jesus respondeu: "O mandamento mais importante - deverás amar o Senhor, teu Deus, com todo o coração, com toda a tua alma, com todo o teu entendimento e com todas as tuas forças." O segundo é este: "Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes." (Mc.12, 28-31).
É esta a razão pela qual, Paulo se alegra quando sabe que os cristãos das primeiras comunidades se preocupam uns com os outros e lhes pede que tornem a sua alegria completa, tendo todos o mesmo pensar, a mesma caridade, uma só alma e um mesmo sentir e sejam perfeitos, ao ponto de considerarem os outros superiores a si mesmo. Porque ao fazê-lo mostravam saber como Jesus tinha vivido, o que tinha ensinado e que entre eles tinham os mesmos sentimentos que havia n'Ele. (Fil. 2, 1-5)
É que sendo Jesus verdadeiramente Deus, não Se fez a Si mesmo igual a Deus, mas renunciando à Sua condição divina , assumiu a condição humana de escravo. (Heb. 2, 14-17)
Jesus nasceu numa família humilde e quando começou a Sua vida pública, as pessoas perguntavam "Não é o filho de José, o carpinteiro?"
Jesus esperava também que os seus pais compreendessem  que Ele tinha uma missão especial a cumprir e, por isso é que O encontraram no templo - a casa de Seu Pai - voltando com eles para Nazaré, obedecia-lhes. Nessa altura, diz o evangelista, Jesus era uma criança de 12 anos. (Lc. 2, 51) Foi, também por obediência a Deus e por serviço aos Homens que Jesus sofreu e foi crucificado. Por isso é que Deus O exaltou e Lhe deu um Nome que está acima de todo o nome (Fil. 2, 6-11)
Foi por esta Sua experiência vivencial de serviço e de servo que Jesus ensinou os Seus discípulos, não só a rezar (dimensão vertical da Sua missão apostólica) mas também a servir (dimensão horizontal da mesma missão).
Um dia a caminho de Cafarnaum, os discípulos disputavam entre si a liderança. Jesus disse: "Se alguém quiser ser o primeiro, há-de ser o último de todos e o servo de todos!" (Mc. 9, 33-35)
No evangelho de Mateus, os discípulos interrogam Jesus sobre qual deles seria o amior no reino dos Céus. Como resposta, chamou uma criança, pô-la de pé à Sua frente e disse: "Senão voltares a ser como criancinhas, não podereis entrar no reino dos Céus. Quem, pois, se fizer humilde como este menino é que será o maior no reino dos Céu". (Mt. 18, 1-4)
Em outra ocasião, os irmãos Tiago e João, foram ter com Jesus para pedir os melhores lugares no reino do Céu. Jesus respondeu-lhes: "Verdadeiramente, não sabeis o que estás a pedir. Sois capazes de beber o cálice que estou prestes a beber ou ser batizado no mesmo batismo?" Quando os outros discípulos ouberam disto ficaram muito zangados com os dois irmãos. Então, Jesus reuniu-os e disse-lhes: "Sabeis como os governantes das nações fazem sentir o seu domínio sobre elas e a sua autoridade. Não deve ser assim entre vós. Quem quiser ser grande entre vós, faça-se vosso servo, e quem quiser ser o primeiro faça-se servo de todos. Pois, também o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate por todos." (Mc. 10, 35-45)

Podemos não ser capazes de imitar o Senhor até este ponto de heroicidade, mas somos todos chamados a ser bons Samaritamos e a prestar serviço à comunidade, não como um meio para fugir dos nossos problemas, mas com preocupação genuína para com aqueles que na nossa família ou comunidade têm problemas graves e urgentes. O Senhor pode chamar-nos para ministérios especializados: prestando assistência viciados, a prisioneiros, doentes, etc. Nestes serviços, Jesus não espera que sejamos bem sucedidos, mas que sejamos, acima de tudo, fiéis e generosos como a mulher que derramou um rasco inteiro de essência de nardo - perfume caro - na cabeça de Jesus. Desperdício e coisa incrivelmente idiota, aos olhos do mundo, mas bela e preciosa aos olhos de Jesus, que deveria ser narrada em toda a parte onde o evangelho fosse anunciado (Mc. 14, 3-9).

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

"Se souberes separar o que tem valor do que não presta

tu serás a Minha boca." Je. 15, 20

Quando tropeço em frases como esta fico sempre admirada, repleta de espanto. Sim, a glória de Deus é sempre imensa e sempre nos arrebata, sempre nos arranca do cómodo sentir e do comum pensar.

Se souberes separar...

O Deus dos cristãos não é um deus do tudo-feito, tudo-pronto, compra-embalado-2-minutos-microondas-e-já-está. Não, este é um Deus que convida à acção, ao pensamento e à constante decisão. Um Deus que vai deixando uma dica aqui e outra ali, revelando um pouco cá outro acolá e, paradoxalmente, tão transparente e tão revelado, que toda a Verdade aí está, ao nosso alcance, ao alcance do que se converte.

Um versículo antes diz o profeta: "Se tu te converteres, Eu te converterei".
Se tu te decidires por Mim, Eu farei toda a tua conversão. Se tu te decidires primeiro, pela tua fé, pela tua livre escolha, Eu, então, farei em ti a tua conversão. "E ficarás na minha presença" - continua o profeta.

E se, depois, souberes separar...
Aqui nos desafia e nos confia Deus. Saber separar. Saber peneirar.Tal como Deus peneira o trigo do joio.
Saber separar é assim uma tarefa própria de Deus. E é o próprio Deus que nos diz que essa é também uma ocupação própria do Homem.

Quantas vezes em cada dia esta nossa cultura se esquece de separar. Habituada que está a ter tudo-pronto, tudo-à-mão, ideias-feitas de universo, frases-ruminadas de boa-vida, opiniões-relativas-de-tudo-e-absolutas-de-nada.

Ao cristão abre-se um outro caminho. É preciso caminhar aqui (que trabalho! dirão alguns...); é preciso pensar aqui; e é preciso fazer e até saber! (vejam só?! quanta trabalheira têm esses cristãos! Não há p'raí um livro que resuma tudo em dois ou três paragrafos?)

O que tem valor do que não presta.

Saber avaliar e atribuir valor ao que nos é importante e guardá-lo como um tesouro, jogando fora tudo o que não presta, o que não convém.
Limpar o nosso coração, a nossa mente e o nosso espírito dos resíduos, ou como se diz agora depurá-lo das toxinas é tarefa urgente. Nem sei se requer muito tempo, acredito que requer apenas querer, fazendo uso desse primeiro dom que recebemos A Vontade Própria.

Guardar o que tem valor. Saber bem o que tem valor, aos olhos de Deus e aos nossos olhos depois de lavados por Ele, e escolher guardar isso como um precioso tesouro será pois a máxima sabedoria para o Homem.

E para o Homem que atinge essa sabedoria, reserva-lhe Deus um destino maior: tu serás a Minha boca.

Quão grandioso este destino a que nos convida Deus. Ser a Sua boca, por onde Ele profere a Sua palavra, essa que é alimento e vida, esse som que cria, que ampara, consola, e alavanca tudo em nós. Quão puro terá de ser um coração para um dia ser boca de Deus! Parece tão inimaginável isso para nós que conhecemos bem o nosso coração e mente e bem sabemos de quanto estão cheios...e, no entanto, basta saber separar o que tem valor do que não presta...e, no entanto, é o próprio Deus que nos criou, que nos sonda e conhece melhor que já sabe que esse destino tão alto está mesmo ao nosso alcance.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Você vai estar fora da rota 90% do tempo. E daí?

O importante é que saiba que tem uma rota!

Tal como um piloto de um avião precisa de uma rota para fazer o caminho do ponto de partida até à chegada, assim também nós e as nossas famílias necessitamos de um caminho que nos conduza à nossa meta.
Mas, o piloto do avião também necessita de um sistema de alerta que lhe comunique quando está fora da rota, e de uma torre de controlo que lhe dê instruções para que possa corrigir e retomar a direção. Assim, toda a família precisa de estar equipada com um bom "sistema de alerta".
As famílias cristãs têm ao seu alcance o melhor "sistema de alerta" possível: a Palavra de Deus e o próprio Espírito Santo!
E a nossa torre de controlo é o próprio Deus Pai, que sempre nos indica o caminho.
Eu diria, que Jesus é a própria rota para todas as famílias cristãs!

No retiro de casais do RCC, que teve lugar nos dias 29 e 30 de Janeiro último, o Pe. Rocha Monteiro, alertava as famílias para a necessidade de terem uma missão, de a compreenderem e de a assumirem plenamente.
De facto, uma missão familiar pode traduzir-se naquilo que a família é chamada a ser e a viver.

Escrever uma missão familiar, pode parecer algo disparatado, mas é uma excelente forma de proporcionar uma boa conversa em família sobre o que de mais essencial e importante existe para ela. Sem essa boa conversa, a nossa existência familiar ficará restricta à convivência e o que mais poderemos obter é "uma boa convivência".
Uma "boa convivência" é fundamental, mas a família é muito mais do que isso!

Estou certa de que Deus deseja que a família seja um espaço íntimo de relação, de crescimento e de desenvolvimento humano, um espaço grandioso de amor. Um lugar onde as pessoas se comprometam e vivam umas com as outras em transparência e verdade, em amor e perdão.

Depois de refletir sobre a nossa missão pessoal e familiar, podemos escrevê-la e afixar num lugar central da nossa casa, onde ela possa ser lida, conhecida e interiorizada por todas as pessoas da família. Este pequeno gesto funciona como um "equipamento de segurança" que permite lembrar à família qual a sua meta e assim, manter-se na rota!

Não poderemos esquecer que o caminho é importante enquanto nos conduz à meta. E qual é a meta para as famílias cristãs?

Deixo a pergunta, certa de que todos sabemos qual é a resposta, mas será maravilhoso receber os vosos comentários.

 
"Eu Sou o caminho, a Verdade e a Vida" Jo.14, 6-7

Veja o exercício que proponho na página Coaching para Famílias e seja a família que Deus deseja!

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Uma questão de vocação

Ser família em Cristo é uma vocação. É um apelo íntimo de Deus ao qual dizemos SIM.
Falta à sociedade trazer para a consciência pública este estado vocacional.
Como vocação que é, ser família em Cristo, envolve discernimento e compromisso constante, empenho e entusiasmo. Envolve determinação e flexibilidade. Requer também um abandono para que se faça em nós segundo a vontade do Pai. Desafia-nos para que abandonemos os nossos planos e nos entreguemos ao sonho de Deus para nós.
A nossa vocação impele-nos para o nosso interior, para explorarmos com coragem os caminhos do espírito.
Depois, vai tecendo em nós o desejo de exteriorizar e de com entusiasmo viver essa realidade vocacional.

Através do matrimónio cristão, a família torna-se consagrada. O que significa, antes de mais, que passa a ser com o sagrado; a fazer com o sagrado. Assim, Deus está com cada família cristã. Ele é o centro e o redor; o dentro e o fora; o todo e a parte; o grande e o pequeno; a palavra e o gesto; o beijo, o abraço e o regaço; o amparo, o abrigo e a alavanca.
Ele "dorme" na nossa barca, mas desperta ao nosso primeiro grito, para acalmar o mar e nos reforçar na fé.
Para viver em família este chamado à vocação, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, todos os dias da nossa vida, até que a morte nos una mais, é preciso ser e fazer com o sagrado, deixando Deus ser e fazer na nossa vida.

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quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Desafio Família Cristã!

A nossa sociedade atravessa momentos contorbados e difíceis, mas os indivíduos continuam a desejar intimamente ser pessoas. E só se é verdadeiramente pessoa quando nos deixamos inundar pela força do Espírito Santo e nos disponibilizamos para viver uma experiência espiritual plena.

A família é, de facto, a célula fundadora da humanidade e o habitat natural do ser-humano. A família é o local onde podemos naturalmente ser amados e educados. A educação pelos valores e para os valores humanos é hoje um desafio para todos, pois tantas são as solicitações da nossa sociedade para que vivamos de "qualquer maneira".

Mas, viver de "qualquer maneira" já não serve; já não nos basta; já não nos preenche; já não nos arranca da cama todas as manhãs!

As famílias cristãs, as que são verdadeiramente de Cristo, que O vivem e interiorizam no quotidiano do seus afazeres, na rotina dos seus afectos, têm em Cristo a sua força inspiradora; a sua motivação e alegria de todas as manhãs!

Ser de Cristo é uma decisão feita com a razão, com argumentos sólidos e intelectuais. Ser de Cristo é também uma decisão emocional feita com o coração, com amor, com alegria. Mas, acima de tudo, Ser de Cristo é uma decisão espiritual feita com toda a alma, toda cheia de esperança!