quarta-feira, 28 de agosto de 2013

"Eu não vou gostar de ti porque a tua cara é bonita."

"O Amor é mais do que isso."
 
Porque faço do primeiro pilar do pensamento o momento onde começa a vida? - perguntas tu na tua curiosidade de quem já se apronta para começar a questionar. E eu respondo-te, agora, com alguma tranquilidade, porque isso muda tudo. Repito: porque isso muda tudo!
 
Dependendo desse lugar assim se constrói todo o pensamento.
Apesar de parecer que tudo pode ser verdadeiro, dado que a filosofia da relatividade se tornou absoluta em nós, alguma verdade tem de ser dogmática. Algo haverá de ontológico em nós, livre de jeitos de pensar e formas de estar, desprovido de tempos e lugares, de culturas e modas. É isso que busco.
Como tu, afinal.
 
É preciso um salto de fé para acreditar que isso (seja o que isso for) pode ser dogmático - dirás - e os homens não voam, lembras-te? - desafias. Por isso mesmo, respondo. Só quando diante disso que é um princípio dogmático pode o homem depositar o seu acreditar firme e confiante de que o seu salto, mesmo que não o faça voar, o fará caminhar depois mais erguido e elevado.
E não se trata de saltitar entre isto e aquilo, entre o que-hoje-ouvimos e o que-amanhã-se-diz, trata-se sempre de caminhar, por isso o salto existe e é só um.
 
O meu é este.
E quando te digo que o início da vida está no momento da conceção, desejava que visses aparecer diante de ti toda a beleza e grandiosidade disto que te digo. Porque isso muda tudo.
Esse momento tem rostos, tem corpos, tem suor, tem risos, tem lágrimas, tem um dínamo. Esse momento é de criação, de união, de vida. Esse momento é de entrega, de dom, de encontro. É um advento; Um apelo à comunhão.
Esse é o momento para o qual o corpo foi criado homem e mulher. Nele o homem descobre o seu ser masculino e a mulher o seu ser feminino, num encontro em que ambos se comungam.
Esse é o início da vida para quem nasce, e também para quem através dele participa como co-autor da vida, apercebendo, enfim compreendendo, que a sua própria plenitude é manifestada por uma comunhão entre pessoas que exprime a complementaridade sexual.
 
Se a alma se materializasse aí terias o corpo humano.
 
Então não temos mais esta ideia de binómio corpo-alma, mas esta certeza de que o corpo humano é uma imagem física de um espírito. Um corpo que torna visível o invisível. O corpo como expressão física de uma realidade espiritual intrínseca.
Um corpo que possibilita e capacita a alma para a interação entre pessoas. E há gestos que têm um significado interior tão intimamente ligado a si que são sempre expressão desse significado em qualquer tempo, lugar ou pessoa.
Um sorriso, por exemplo. É sempre uma manifestação espiritual interior tornada visível. Um beijo, um abraço. Uma lágrima.
 
O que faz a sexualidade entre o homem e a mulher ser um momento de complementaridade e de comunhão é exatamente que esse momento possibilita mais do que qualquer outro a manifestação dessa comunhão. Porque nele o homem e a mulher se entregam, um ao outro, como dom, como dádiva. Nele o homem e a mulher se tocam na alma. E só quando assim é, a sexualidade proporciona ao ser-humano esse vislumbre da plenitude para a qual, e na qual, foi criado. E só quando assim é, a sexualidade proporciona uma elevação da alma, um rasgar de coração pelo qual todos, enfim, ansiamos. E isso é algo gravado com tanta força no nosso ser que, diria, pertence ao código genético. Não vale a pena remoer. Querer que a sexualidade fosse diferente, livre, descomprometida, cheia de prazeres momentâneos, de noites fervorosas e dias fugazes. Revolucionar por uma sexualidade independente, dona de si, vazia de significado, tipo pastilha elástica - melhora o hálito, dura 5 minutos e deita fora, no chão, sempre no chão, e a seguir venha outra, doutro sabor, um halls ou goma, só para experimentar, só para saber como é... não adianta. Isso não faz parte de nós. Isso não nos faz sermos mais nós.
 
Por isso, quando te digo que naquele momento começa a vida isso muda tudo. Com quem começa a vida, torna-se parte importante da própria vida. Com quem nessa entrega descobrimos este mistério de comunhão, torna-se essência do próprio mistério. Com quem nos entregamos, um ao outro, em sintonia, inteiros, à própria vida, torna-se vida em nós. Torna-se dogmático. Somos, nesse momento, trespassados por um Amor maior, em que acredito por inteiro, de corpo e alma. E é ao corpo e à alma (do homem e da mulher nesse ato) que esse Amor maior une para sempre, num só corpo, numa só carne. E é esse corpo UM que se torna, profeticamente, manifestação visível de algo invisível. Imagem e Semelhança de Deus.
"Deus criou o Homem à Sua imagem, criou-o à imagem de Deus; Ele os criou varão e mulher" Gn.1, 27 - repara não é varão ou mulher, é varão e mulher - "Por esse motivo, o homem deixará pai e mãe para se unir à sua mulher e os dois serão uma só carne" Gn. 2, 24 - repara não diz "à mulher" mas sim "à sua mulher"; uma única mulher para um único homem e os dois em conjunto, unidos serão então uma só carne, por esse motivo de serem imagem e semelhança de Deus.
 
Isto é o meu corpo entregue por vós.
Será que já se abrem de par-em-par as portas do teu pensamento?
O que Ele entregou foi o corpo.
Para que O imitemos, Jesus continuamente se entrega. Através do corpo se entrega a Si mesmo. A Si todo. A Si pleno. A Si próprio em plenitude, em totalidade. Eterno dom, através do Seu corpo. E Nele toda a Sua alma se entrega. E Nele entrega o amor do Pai e do Espírito. E nele entrega tudo.
 
E a nós também nos é dado que entreguemos tudo quando entregamos o nosso corpo.
 
(...por uma valorização da vida humana, da sexualidade e da família, no ano da fé - promovido pelo Papa Bento XVI, na descoberta da Teologia do Corpo do Papa João Paulo II, no desejo profundo de uma vivência de coerência no corpo e com o corpo das realidades que professamos no espírito como desafia o Papa Francisco. Esta é a nossa Igreja.)

Sem comentários:

Enviar um comentário