sábado, 3 de maio de 2014

SEM TU NÃO HÁ EU

Quando te vi pela primeira vez eu soube que "nós vimos do Céu".
O teu rosto pequenino. O teu rasgar-me o corpo.
A tua serenidade na minha agonia.
O teu grito pela vida na mudez da minha exaustão.
E quando te vi eu soube: "nós vimos do Céu".

E tu olhas-te-me.

E através do teu olhar, eu olhei-me.

Quando te vi pela segunda vez eu soube que "nós vimos do Céu e de lá trazemos a Paz".
O teu rosto pequenino. O meu abrir de corpo para dar-te a vida.
A tua serenidade na minha alegria.
o teu grito pela vida no sorriso de graças do meu coração.
Tu no meu regaço e a paz.
E quando te vi eu soube: "nós vimos do Céu e de lá trazemos a Paz".

E tu olhas-te-me.

E através do teu olhar, eu descobri-me.
Como quem, enfim, se alcança. Como quem, enfim, experimenta o seu próprio mistério: "concebeu e deu à luz".
Compreender-me, agora, diante do homem como mãe, "sujeito de nova vida humana", que de mim nasce para o mundo, fez-me experimentar o mistério da feminilidade que "se manifesta e revela profundamente mediante a maternidade".

Quando te vi pela terceira vez, meu filho, eu soube que "nós vimos do Céu e de la trazemos a Paz e o Amor".
O teu rosto pequenino rasgou-me a alma, "numa descoberta mais profunda do significado do próprio corpo". Corpo que torna visível o invisível.
A tua serenidade no meu espanto.
O teu grito pela vida na oração profunda do meu ser.

E tu olhas-te-me.

E através do teu olhar, eu conheci-me.
Como quem, enfim, alcança pela graça a revelação do mistério inescrutável de Quem Sou (?). Numa "descoberta comum e recíproca, assim como comum e recíproca é, desde o início, a existência do homem que «Deus criou como varão e mulher»".
Como se, enfim, o Amor revela-se a Verdade.

Como se no vosso nascer, eu e o vosso pai, nos realizasse-mos «numa só carne», e assim, nos fosse permitido conhecer-mo-nos reciprocamente, ainda mais profundamente, em vós.
Como se a constatação maior e primeira do Homem (e nesse sentido figurado da própria humanidade) "tu és realmente ossos dos meus ossos e carne da minha carne" se actualizasse em nós na vossa existência, e fosse agora confirmada pelas palavras da maternidade e da paternidade.
Neste novo homem nascido reproduz-se aquela mesma Imagem e Semelhança, que desde o princípio formou a humanidade.
Como se o nosso corpo reflexo em vós nos esclarecesse enquanto Pessoas.
Como se no dom maior de mim mesma, alcançasse a plenitude. Como se nessa nova vida se revelasse a minha alma. Como se no acolher da vossa vida no vosso corpo conhecesse a plenitude do nosso nascer.

"O corpo, de facto. e só ele é capaz de tornar visível o invísivel: o espiritual e o divino."

Em cada um de vós - Tiago, André e Tomás - contemplei a entrada do homem no mundo como sujeito de Verdade e Amor. Como Pessoa chamada à Santidade. Porque "nós vimos do Céu".
Em cada um de vós descobri a vocação humana como sujeito construtor da Paz, como guardião da Esperança.
Em cada um de vós conheci a marca inscrita, desde o princípio, no coração humano: o apelo ao Amor. O apelo ao dom sincero de si, ao superar a si mesmo na perfeição do dom que tudo suporta, tudo espera e tudo alcança.

Neste chamado à comunhão que nos impele a abandonar a solidão e a tomar posse da nossa própria humanidade, homem e mulher, conhecem (através da união) e realizam aquilo que o nome Homem expressa: realizam a humanidade; realizam-se a si mesmos.

É no limiar de um novo nascimento que tomamos consciência de que o nosso corpo (masculino e feminino) encerra em si o significado maior da paternidade e da maternidade e este, enfim, esclarece quem somos, de onde vimos e ao que somos chamados, numa afirmação sempre nova da vida, na irrepetibilidade de cada Pessoa, num mistério comum a toda a humanidade.

Por isso, hoje o afirmo (na celebração do dia da mãe) a cada um dos meus filhos, olhando-os profundamente: "Sem tu não há eu".
E esta mesma frase a repito em cada dia àquele sem o qual tu não existirias e eu não seria mãe: o teu pai.
E juntos, meus amados filhos, a diremos juntos Àquele que revela todas as coisas e que desde o princípio nos concebeu e deu à luz: "Sem Tu não há NÓS!"

Aos meus três filhos-homem que Deus vos prepare com ternura e carinho para um dia descobrirem na vossa paternidade a imensa felicidade de ser Pessoa. E a Maria, nossa Mãe, para que ela vos ampare e pacientemente vos ensine a colher e aceitar os frutos da Verdade e do Amor.

N.b. todas as frases em itálico provêm das catequeses sobre a Teologia do Corpo - 1º ciclo. 


1 comentário:

  1. Parabéns Sofia, pela paixão com que escreveste este artigo e que revela tudo o que te vai no coração. Quando contemplo esta cruz, vem-me ao pensamento o grito de Jesus: " Pai afasta de Mim este Cálice..." E as palavras de Simeão a Maria " Uma espada te transpassará a alma". Do Alto da Cruz, Jesus ofereceu-.nos a Mãe.para ficar connosco. E Ela recolhe no Cálice da Bênção, um manancial de graças, de virtudes, de dons e convida-nos a mergulhar no Coração de Jesus e a abrir os nossos corações ao Seu infinito Amor.

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